24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

como o da subversão de um modelo ti<strong>do</strong> como hegemónico, arrisca-se, por um la<strong>do</strong>, a<br />

estabelecer «fronteiras» onde não existem, o que impediria um trabalho de «tradução» e, por<br />

outro la<strong>do</strong>, a menosprezar a importância de outras práticas inscritas na história. No caso <strong>do</strong><br />

escritor congolês, se o trabalho sobre a materialidade da língua assim como com as<br />

categorias teatrais pode ser analisa<strong>do</strong> com a ajuda da teoria pós-<strong>colonial</strong> da literatura, a<br />

recusa, consciente ou não, de colocá-lo na longa tradição <strong>do</strong>s dramaturgos da revolução<br />

teatral tende em última análise a essencializar a prática textual de um autor que denegava<br />

este tipo de operação.<br />

Assim, Sidibé Valy, num estu<strong>do</strong> sobre a dramaturgia de Tansi, vê nesta, por um<br />

la<strong>do</strong>, a vontade de se distanciar em relação às dramaturgias ocidentais e, por outro, a<br />

vontade de criticar os Esta<strong>do</strong>s pós-coloniais (Valy, 2003: 181). Se a segunda característica<br />

<strong>do</strong> teatro de Tansi não coloca problemas, pois o teatro, como o romance aliás, é percorri<strong>do</strong><br />

por esta temática, a primeira característica, por causa de um erro de paralaxe, leva a<br />

considerar intrinsecamente sonyanio ou, para ampliar o propósito, intrinsecamente pós-<br />

<strong>colonial</strong> o que caracteriza a obra de numerosos dramaturgos europeus <strong>do</strong> século XX. Se, de<br />

facto, há em Tansi uma rutura ao nível da estética clássica, uma rutura que se des<strong>do</strong>bra<br />

noutra, a das esperanças <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> pós-independência, é difícil ver na primeira uma<br />

novidade estética em tu<strong>do</strong> afastada <strong>do</strong> modelo imposto pelo antigo <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>r (Valy, 2003:<br />

181). Como veremos mais à frente, La parenthèse de sang [A parêntese de sangue] (1981) pode de<br />

facto ser lida como paradigma da produção dramática sonyana 212 – representação <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, violência das palavras e <strong>do</strong>s atos, perturbação da sintaxe, tanto a <strong>do</strong><br />

teatro como a da gramática – mas será a subversão <strong>do</strong>s códigos tão exclusivamente sui<br />

generis? No trecho seguinte poder-se-ia aplicar a um Michel de Ghelderode, por exemplo, o<br />

que o autor considera ser o âmago da dramaturgia de Tansi:<br />

Son écriture joint de manière harmonieuse le tragique et le comique, le solennel et le<br />

bouffon, le sacré et le profane. Les images favorites de Sony sont le corps et la<br />

mort. Le flux dramatique véhicule à travers ses pièces des instants culminants<br />

d’incantation lyrique. Tout est destiné à <strong>do</strong>nner à l’œuvre théâtrale l’énergie dirigée<br />

et la liberté de la forme. (Valy, 2003: 187)<br />

212 Sobre esta peça, uma das obras de Tansi mais estudadas a par <strong>do</strong> seu romance La vie et demie (1979),<br />

existem duas contribuições que pus de la<strong>do</strong> pelas suas numerosas contradições: Blédé Logbo (2003) e<br />

Bertrand Michel (2007). Este último, por exemplo, professor na Universidade de Provence, cumula<br />

contradições no decorrer <strong>do</strong> artigo. Afirma que podemos ler a peça como uma tragédia clássica, apesar de<br />

Tansi não respeitar a unidade de tempo, depois de ter dito que o dramaturgo respeitava as três unidades. A<br />

seguir, acrescenta sem transição que a peça pertence tanto ao teatro <strong>do</strong> absur<strong>do</strong> como ao <strong>do</strong> Shakespeare<br />

(Bertrand, 2007: 95).<br />

247

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!