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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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Assim, o crítico assume que Aristóteles poderia ter integra<strong>do</strong> o plano religioso na sua<br />

descrição da tragédia, mas não o fez por não fazer parte <strong>do</strong> seu propósito.<br />

A partir <strong>do</strong> que chegou até nós da Poética, podemos supor que Aristóteles partiu <strong>do</strong><br />

seguinte méto<strong>do</strong>: parte de um corpus fecha<strong>do</strong> de tragédias, todas elas com mais de um<br />

século. Entre elas, destaca a obra de Sófocles como sen<strong>do</strong> o paradigma da boa gestão <strong>do</strong>s<br />

meios para atingir o fim procura<strong>do</strong>. Manifesta assim um certo desinteresse pelos autores<br />

contemporâneos, o que poderia apontar para uma perspetiva algo conserva<strong>do</strong>ra, mas que<br />

também poderia ser interpreta<strong>do</strong> como vontade de colocar o objeto a uma certa distância, a<br />

da ciência, ou poderá ser ainda evidência <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> áureo da tragédia. 168 À procura<br />

<strong>do</strong>s melhores meios e recursos, que induz da interpretação <strong>do</strong>s seus modelos, Aristóteles<br />

propõe então uma série de regras, às vezes extremamente concretas, 169 a seguir para se<br />

conseguir o prazer inerente à «boa» tragédia.<br />

A definição da tragédia por Aristóteles no capítulo VI é bem conhecida:<br />

La tragédie est <strong>do</strong>nc l’imitation d’une action noble, conduite jusqu’à sa fin et ayant<br />

une certaine étendue, en un langage relevé d’assaisonnements <strong>do</strong>nt chaque espèce<br />

est utilisée séparément selon les parties de l’œuvre: c’est une imitation faite par des<br />

personnages en action et non par le moyen d’une narration, et qui par l’entremise<br />

de la pitié et de la crainte, accomplit la purgation des émotions de ce genre.<br />

(Capítulo VI)<br />

O autor condensa aqui o essencial da sua conceção da tragédia. Toda a Poética<br />

consiste em descrever mais pormenorizadamente cada um <strong>do</strong>s elementos constitutivos da<br />

definição. Relativamente à tragédia como imitação, sabe-se que neste ponto, como para a<br />

catarse, Aristóteles não define concretamente o que entende por imitação. A única coisa<br />

certa é que, pela sua origem etimológica, a palavra «imitação» (Mimesis) está<br />

indubitavelmente ligada ao campo semântico <strong>do</strong> teatro, pois os Mimoi eram uma espécie de<br />

sketches que punham em cena a vida quotidiana, enquanto Mimos remetia para o mimo, o<br />

ator que canta, dança e declama mas também para o imita<strong>do</strong>r. A mimesis na definição de<br />

Aristóteles designa tanto a ação de imitar como o resulta<strong>do</strong> desta ação (a tragédia). Esta<br />

168 De facto, teóricos e especialistas da tragédia e <strong>do</strong> trágico (Escola, 2002; Romilly, 1992; Vernant e Vidal-<br />

Naquet, 1995) mostraram que o género teve um perío<strong>do</strong> de produção reduzi<strong>do</strong> no século V a.C. (80 anos).<br />

169 No capítulo XVII, Aristóteles aconselha assim o poeta que quiser organizar as histórias de maneira a<br />

conseguir uma boa tragédia a representar mentalmente os lugares da ação e assim evitar a contradição. No<br />

mesmo lugar, aconselha o poeta a imitar as posturas e as paixões das personagens para, mais uma vez, melhor<br />

as representar.<br />

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