24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ter-se-á nota<strong>do</strong> aqui a introdução de uma dicotomia (a plebe vs o poder) que o<br />

próprio autor pretendia suprimir na descrição <strong>do</strong> poder na «poscolónia». Do ponto de vista<br />

retórico, o recurso frequente à figura <strong>do</strong> oxímoro traduz a visão antagónica de um autor<br />

que pretendia, na abertura <strong>do</strong> seu livro, reintroduzir o ambíguo e a nuance num campo que<br />

o Texto tinha justamente sobrecarrega<strong>do</strong> com oposições binárias. Neste contexto, parece<br />

impossível a existência no seio da «plebe» – palavra ambígua pois conota negativamente o<br />

polo <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> – de práticas realmente subversivas, de atos e de discursos que consigam,<br />

se não abalar, pelo menos criticar o poder absoluto. É o que Karlström destacava:<br />

If the post<strong>colonial</strong> political aesthetic is engineered and institutionalized by the State,<br />

than Mbembe’s radical pessimism may be justified. But if the aesthetic arises out of<br />

the popular imagination, or is jointly or dialogically constructed bay state and<br />

people, such despair is less justifiable. For this suggests the existence of a popular<br />

political imaginary that, even if it <strong>do</strong>es play a role in reproducing the state-society<br />

impasse, must also be at least partially autonomous from any (pseu<strong>do</strong>)<strong>do</strong>mination<br />

by the state. (Karlström, 2003: 61)<br />

Karlström descreve então cerimónias oficias organizadas por parte da suposta<br />

«plebe» para a receção às autoridades no Buganda. O autor mostra que longe de partilhar<br />

um mesmo «campo epistémico» ou uma conivência com o poder, a plebe não hesita em<br />

encenar as suas críticas, em contradizer a autoridade, em protestar contra as injustiças.<br />

Aparentemente, admite o autor, os participantes partilham o mesmo espaço, o mesmo<br />

apetite pelo consumo de alimentos e bebidas em grande quantidade, mas uma observação<br />

atenta <strong>do</strong> que é dito e feito no quadro das cerimónias inviabiliza a possibilidade de as ler<br />

com o recurso à «estética da vulgaridade»:<br />

Local populations can thus express their satisfaction or discontent with power<br />

holders by modulating their degree of participation, the enthusiasm of their<br />

reception and the quality and quantity of their prestations. (Karlström, 2003: 67-68)<br />

Parece-me pertinente contrapor a Mbembe outro exemplo, proveniente justamente<br />

<strong>do</strong> paradigma de «poscolónia» ao qual o autor pretendia referir-se, os Camarões de Paul<br />

Biya. Basile Ndjio, antropólogo, num estu<strong>do</strong> de terreno sobre os Carrefours de la Joie em<br />

Yaoundé, demonstrou que longe de estabelecerem uma tensão convivial, as atitudes<br />

grotescas e obscenas, ou para falar em termos bakhtinianos, as atitudes que celebram o<br />

“baixo material e corporal” possuem uma forte componente de crítica social e política.<br />

108

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!