24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CAPÍTULO VI - SONY LABOU TANSI E PIUS NGANDU<br />

NKASHAMA: O ESTADO PÓS-COLONIAL COMO FONTE<br />

DO MAL<br />

Depois da fase inicial das dramaturgias das descolonizações, começa uma nova fase<br />

empenhada em criticar os regimes autoritários pós-coloniais. No entanto, é preciso<br />

perceber que as fronteiras entre as fases, por úteis que sejam numa perspetiva histórica, não<br />

podem ser encaradas como estanques, uma suceden<strong>do</strong> à outra, sem qualquer tipo de<br />

sobreposições. Dadié e Césaire, por exemplo, publicam respetivamente Îles de tempêtes e Une<br />

saison au Congo em 1973, enquanto Sony Labou Tansi publica La parenthèse de sang em 1979 e<br />

Pius Ngandu Nkashama La délivrance d’Ilunga em 1977, ou seja, a crítica depara-se com um<br />

ponto de viragem entre as tragédias que, apesar <strong>do</strong> fracasso <strong>do</strong> herói, ainda acreditam na<br />

resolução da tensão dialética e as tragédias que parecem recusar qualquer possibilidade de<br />

síntese. Entre outros, Sylvie Chalaye, uma das grandes conhece<strong>do</strong>ras das dramaturgias<br />

africanas, apontou para a importância da gradual passagem de uma fase à outra:<br />

Dans les années soixante-dix en effet, ces dramaturgies du retour [retour à l’histoire<br />

africaine] se sont muées en ‘dramaturgies du retour de bâton’, autrement dit en<br />

dramaturgies de la désillusion. Les intellectuels font l’amer constat qu’on ne peut<br />

avoir été traversé par la colonisation sans en porter les stigmates. Tout un théâtre<br />

alors dénonce les malversations politiques, les dictatures, l’usurpation du pouvoir.<br />

(Chalaye, 2004: 24)<br />

À fase centrípeta que visava recuperar um certo passa<strong>do</strong> sucede então uma fase<br />

mais centrífuga, onde os referentes não correspondem a um contexto social reconhecível.<br />

É um teatro menos centra<strong>do</strong> sobre si próprio, menos preocupa<strong>do</strong> com as fronteiras<br />

nacionais – o que se traduz aliás pelo recurso, por um la<strong>do</strong>, a um cronótopo indetermina<strong>do</strong><br />

e, por outro la<strong>do</strong>, a distopias, como acontece em quase toda a produção teatral e<br />

romanesca de Sony Labou Tansi. Chalaye apontava precisamente para esta situação num<br />

outro contributo: «Le temps du replis sur soi est révolu. Volontiers insaisissables, ces<br />

écritures se projettent au-delà de toute définition et sautent l’enclos» (Chalaye, 2006: 50). 198<br />

198 A mesma Chalaye acha que a jovem geração de dramaturgos africanos, herdeiros assumi<strong>do</strong>s de Tansi,<br />

desenvolveu ainda mais a disseminação <strong>do</strong>s espaços teatrais, o apagamento das fronteiras, pois, com Kossi<br />

237

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!