24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

interpretação interlinguística, ou tradução entre línguas naturais (Eco, 2005: 244), enquanto<br />

a paráfrase, o resumo, a vulgarização, o comentário, etc. são operações que se processam<br />

dentro da mesma língua (na sua nomenclatura é a interpretação intralinguística ou<br />

reformulação). Contu<strong>do</strong>, e apesar da sua recusa em chamar esta última de tradução, sabe<br />

que muitos continuarão a utilizar a palavra de mo<strong>do</strong> metafórico mesmo que se trate de<br />

interpretação intralinguística. Daí a sua proposta de colocar aspas sempre que a «tradução»<br />

é entendida lato sensu.<br />

Como mostrei há pouco, uma certa teoria pós-<strong>colonial</strong> fez justamente da «tradução»<br />

um conceito maleável, aberto, abrangen<strong>do</strong> muito mais <strong>do</strong> que o próprio Eco aceitaria<br />

como sen<strong>do</strong> tradução. No entanto, como é sabi<strong>do</strong>, uma das características <strong>do</strong> pensamento<br />

pós-<strong>colonial</strong> reside justamente no facto de questionar e de abrir certos conceitos e de<br />

participar desta maneira na sua evolução semântica. De facto, como o mostra o trecho<br />

seguinte, a «tradução» pós-<strong>colonial</strong> ultrapassa a dicotomia intralinguística/interlinguística,<br />

colocada por Eco como limite entre interpretação e tradução, para propor uma espécie de<br />

síntese onde o mais importante parece ser a aproximação que a «tradução» favorece:<br />

Potencialmente, toda a situação em que se procura fazer senti<strong>do</strong> a partir de um<br />

relacionamento com a diferença pode ser descrita como uma situação translatória.<br />

Nesta acepção ampla, o conceito de tradução aponta para a forma como não<br />

apenas línguas diferentes, mas também culturas diferentes e diferentes contextos e<br />

práticas políticos e sociais podem ser postos em contacto de forma a que se tornem<br />

mutuamente inteligíveis, sem que isso tenha que se sacrificar a diferença em nome<br />

de um princípio de assimilação. O que significa, dito de outro mo<strong>do</strong>, que a questão<br />

da ética da tradução e da política da tradução se tornaram mais prementes nos<br />

nossos dias. (Ribeiro, 2005: 78-79)<br />

Se no contexto <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s pós-coloniais faz to<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> falar de «tradução»,<br />

talvez se torne ainda mais pertinente quan<strong>do</strong> se trata de análise <strong>do</strong> discurso literário. É<br />

certo que o trabalho de leitura crítica se assemelha a uma hermenêutica, a um trabalho<br />

sobre alguns <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s latentes de uma narrativa, 52 mas o facto de me debruçar neste<br />

trabalho sobre narrativas escritas em várias línguas, em contextos culturais diferentes,<br />

justificaria, sem dúvida, o recurso a ambos os termos para designar a minha abordagem. À<br />

52 Faço minha a definição proposta por Popovic e Boissinot: «L’herméneutique engage un travail<br />

d’interprétation; elle suppose que les signes et les discours ne sont pas transparents, et que derrière un sens<br />

patent reste à découvrir un sens latent, plus profond ou plus élevé, c’est-à-dire, dans notre culture, de plus<br />

grande valeur. On interprète quand, pour une raison ou pour une autre, le sens littéral ne semble pas (ou plus)<br />

aller de soi et qu’il faut faire appel à un autre niveau de sens.» (Aron, et al., 2004).<br />

47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!