24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

como a ligação entre história e política ilustram uma tendência de fun<strong>do</strong> na produção<br />

dramática. A este propósito, o que Michèle Rakotoson, escritora e jornalista de Madagáscar,<br />

diz das peças de Dadié poderia ser generaliza<strong>do</strong> a uma parte substancial <strong>do</strong>s textos de<br />

teatro escritos nas Áfricas: «L’engagement artistique se fait sur le mode de la dénonciation<br />

des ignominies et des injustices, crier pour mieux se faire entendre et inverser le cours des<br />

choses» (Rakotoson, 1995: 17). Na mesma perspetiva, Caya Makhélé, escritor e crítico<br />

oriun<strong>do</strong> da República <strong>do</strong> Congo, defendia que «le théâtre devient porte-parole, témoin,<br />

dénonciateur de l’injustice. L’artiste existe alors en tant qu’individu capable de secouer la<br />

torpeur de ses concitoyens» (Makhélé, 1995: 6).<br />

Neste contexto, os heróis trágicos debatem-se num campo <strong>do</strong>mina<strong>do</strong> por forças<br />

contraditórias – mais uma vez a tensão dialética entre polos opostos – e, mesmo quan<strong>do</strong><br />

morrem, morrem na esperança de atingir pela sua morte uma síntese superior onde a<br />

coletividade reencontra um significa<strong>do</strong>. Dito de outro mo<strong>do</strong>, a figura histórica – como<br />

parece ser o caso com Lumumba – dá um senti<strong>do</strong> renova<strong>do</strong> à coletividade. Martin<br />

Mégevand, num trabalho compara<strong>do</strong> sobre a representação da violência em Sony Labou<br />

Tansi e Wole Soyinka, via naquela tensão dialética entre o sofrimento de um em prol <strong>do</strong><br />

potencial bem-estar da comunidade um <strong>do</strong>s elementos intrínsecos aos dramaturgos da<br />

descolonização:<br />

La violence historique, représentée par l’intermédiaire du parcours exceptionnel ou<br />

exemplaire d’une figure héroïque se trouve ainsi pourvue d’un sens et articulée à la<br />

figure d’un sujet autour duquel la collectivité, prise dans l’étau de la violence, décrite<br />

invariablement comme désunie, mais virtuellement capable de s’unir — au point<br />

que ce scénario peut faire figure d’invariant mythique des dramaturgies de cette<br />

génération. (Mégevand, 2009: 96)<br />

Considera-se atualmente que os conceitos de «empenhamento artístico» e «teatro<br />

como porta-voz» de Rakotoson e Makhélé podem ser utiliza<strong>do</strong>s para qualificar o teatro de<br />

Césaire, mas, como o notaram os mesmos autores, entre outros, trata-se de um teatro que<br />

utiliza de um mo<strong>do</strong> particular as formas herdadas da escola <strong>colonial</strong>. O registo é o da<br />

tragédia por ser, como sabemos, a forma mais adaptada para a representação <strong>do</strong> conflito<br />

entre normas opostas. Não se trata contu<strong>do</strong> da mera a<strong>do</strong>ção de uma forma importada. Se<br />

muitas tragédias <strong>do</strong> Sul respeitam a divisão clássica em atos e cenas, diferem, como o vimos<br />

há pouco, por causa <strong>do</strong> ponto de vista a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> mas igualmente por causa <strong>do</strong> tratamento da<br />

império Lunda.<br />

233

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!