24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

d’Afrique deman<strong>do</strong>ns têtument la parole après cinq siècles de silence, c’est pour dire<br />

l’espoir d’une Humanité bâclée» (Tansi, 1997: 13).<br />

O facto de ter escrito Antoine m’a vendu son destin, acrescenta Tansi, significa a<br />

afirmação <strong>do</strong> estatuto que lhe conferiu a História, mas uma afirmação reivindicada e já não<br />

imposta: «VOYOU VA-NU-PIEDS DE LA RACE HUMAINE». A passagem para a<br />

maiúscula é muito significativa, pois remete, de mo<strong>do</strong> simbólico, para a passagem de um<br />

estatuto ao outro. Tansi esboça então a fábula da sua peça – o poder, os seus excessos, a<br />

ligação ambígua <strong>do</strong>s sujeitos com o potenta<strong>do</strong> – antes de passar ao significa<strong>do</strong> que lhe<br />

atribui. Notar-se-á mais uma vez a importância da tragédia: «Cette pièce pourrait être la<br />

tragédie d’une génération qui bâcle ses rêves, ses espérances et ses mutations».<br />

É níti<strong>do</strong> no texto o balanço entre constatação algo desiludida e vontade de não se<br />

deixar submergir pela desilusão. O escritor entende a sua prática em geral e esta peça em<br />

particular como meios para lutar justamente contra os excessos. Se o mun<strong>do</strong> é de<br />

turbulências, então Antoine será o cinto <strong>do</strong> qual a humanidade precisa para se proteger:<br />

«Antoine est une manière d’attacher sa ceinture dans notre monde secoué où le naturel est<br />

devenu une tragédie» (Tansi, 1997: 14). Neste paratexto como noutros, a palavra tragédia<br />

parece ser o centro a partir <strong>do</strong> qual se constrói o conjunto, núcleo semântico que situa uma<br />

prática, entre outras possíveis, que descreve um esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, o que remete em última<br />

análise para uma postura ética.<br />

Encontramos uma reflexão assaz semelhante na «Note au metteur en scène» que<br />

antecede Moi, veuve de l’Empire - Eu, viúva <strong>do</strong> Império (1987), 206 uma reescrita da peça de<br />

Shakespeare The Tragedy of Julius Caesar. Aqui, o dramaturgo situa a peça no momento da<br />

queda <strong>do</strong> Império Romano, não <strong>do</strong> original, que não caiu com o assassínio de César, mas<br />

de um império mais moderno. Pelo menos, é o que sugere ao colocar as seguintes<br />

perguntas: «Et si nous étions tous des Romains?», «Et si nous étions en train de répéter<br />

tragiquement l’Histoire?». Como no avant-propos a Antoine m’a vendu son destin, o trágico<br />

designa a peça que se segue e qualifica o referente social, o mun<strong>do</strong> descrito por Sony<br />

Labou Tansi. Perante a tragédia eminente, um mun<strong>do</strong> prestes a ruir, tanto o da fábula<br />

como o outro, o escritor admite uma só possibilidade, a <strong>do</strong> riso, mas não de qualquer riso:<br />

«Le courage tragique de se marrer en connaissance de cause», construção oximórica que<br />

206 Trata-se da transformação de Shakespeare em palimpsesto de um novo texto ou ainda da «tradução» e<br />

reapropriação de uma tragédia clássica numa perspectiva pós-<strong>colonial</strong>. Alguns anos mais tarde, faria o mesmo<br />

com The Most Excellent and Lamentable Tragedy of Romeo and Juliet «traduzida» por La résurrection en rouge et blanc de<br />

Roméo et Juliette (1990).<br />

242

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!