24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Em Antoine m’a vendu son destin, a personagem epónima prepara um falso golpe de<br />

Esta<strong>do</strong> a fim de descobrir quem conspira na sombra. A primeira cena coloca as<br />

personagens num espaço fecha<strong>do</strong> (um quarto secreto) que encarcera Antoine antes de este<br />

entrar na prisão. Riforoni lê a declaração que anuncia o golpe e a queda <strong>do</strong> governo. Um<br />

outro oficial, Moroni, tenta dissuadir Antoine de se lançar numa aventura incerta. Antoine<br />

hesita, duvida de ambos, não sabe em quem confiar realmente, o que, por um la<strong>do</strong>, remete<br />

para esta espécie de me<strong>do</strong> obsessivo que caracteriza os potenta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> corpus aqui analisa<strong>do</strong><br />

e, por outro la<strong>do</strong>, já anuncia a conflitualidade trágica, pois a personagem trágica oscila<br />

muitas vezes entre polos contraditórios.<br />

Riforoni revela rapidamente ser um oportunista que acusa Moroni por Antoine<br />

quer delegar nele o poder durante o falso golpe de Esta<strong>do</strong>. Riforoni avisa o potenta<strong>do</strong> da<br />

potencial traição de Moroni, mas o recetor entende que a verdadeira advertência dimana de<br />

Moroni: «Vous construisez un enfantillage qui pourrait conduire à la guerre civile» (Tableau<br />

I, scène-genèse). Antoine recusa ouvir o conselheiro, o que, como se sabe, corresponde à<br />

segunda etapa da sintaxe trágica: «On ne discute pas Antoine; on lui obéit. Voilà. Voilà la<br />

signification et le sens que l’Histoire a choisi chez nous. On est avec Antoine… Ou bien on<br />

est contre lui.» (Tableau I, scène-genèse). Uma tragédia gira muitas vezes em torno da questão<br />

<strong>do</strong> mal e da sua origem e Moroni, neste contexto, corresponde à personagem que<br />

percebeu, que não está cega perante a iminente catástrofe: «Je suis venu dégager ma<br />

responsabilité devant l’Histoire, devant notre Peuple et devant Dieu […]» (Tableau I, scène-<br />

genèse).<br />

A cena 2 coloca o recetor pouco antes da falsa queda de Antoine. O espaço teatral é<br />

o da prisão de Bracara, mas uma prisão que se assume como cenário em construção: os<br />

prisioneiros, que entoam uma canção onde se representam como os dana<strong>do</strong>s da terra,<br />

constroem o novo palácio de Antoine, pintam os muros, arrumam o espaço. De maneira<br />

subtil, este assume-se e joga com a duplicidade <strong>do</strong> espaço teatral, ao mesmo tempo espaço<br />

atual da fábula e cenário onde cada signo remete para a ficção (a fábula) como para a<br />

artificialidade assumida <strong>do</strong> cenário em construção. Os próprios prisioneiros assumem pela<br />

sua postura algo de artificial já que se movimentam numa espécie de baila<strong>do</strong> («Même<br />

cadence. Même rythme» diz a didascália). Têm igualmente de pintar os muros da prisão,<br />

mas parecen<strong>do</strong> pintar sem nexo («Les Prisonniers peignent tous sens dessus dessous» diz o<br />

texto). Esta sensação de inversão é reforçada através da leitura da didascália: «Danse des<br />

foireux jusqu’à l’épuisement total de tous. Le lieu devient une fête du sordide et des<br />

294

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!