24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

uma certa crítica, os textos pós-coloniais ofereciam quase que naturalmente afinidades<br />

tanto <strong>do</strong> ponto de vista da forma (por outras palavras, uma poética intrínseca que se<br />

manifestaria independentemente <strong>do</strong>s contextos) como <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> (a crítica <strong>do</strong><br />

<strong>colonial</strong>ismo numa primeira fase ou <strong>do</strong>s problemas sociais em certos contextos numa fase<br />

mais recente, por exemplo).<br />

Vejo nesta última abordagem <strong>do</strong>is problemas principais. O primeiro situa-se a um<br />

nível ético e político, ten<strong>do</strong> a ver com a homogeneização de contextos e práticas (o que no<br />

discurso se traduz pelo recurso à generalização abusiva) ou, para dizê-lo de maneira mais<br />

concreta, ao agregar contextos espaciais e temporais diferentes, não se dá conta das<br />

relações de força dentro e fora <strong>do</strong>s sistemas contempla<strong>do</strong>s. O segun<strong>do</strong> problema tem a ver<br />

com a meto<strong>do</strong>logia, pois, ao a<strong>do</strong>tar naturalmente a perspetiva comparativa, não se coloca a<br />

questão das especificidades da disciplina, o que tem como corolário uma ausência de<br />

reflexão sobre a natureza <strong>do</strong> fenómeno literário. Assim sen<strong>do</strong> inviabiliza-se uma articulação<br />

estimulante entre a literatura comparada e as teorias pós-coloniais. E de facto, como o<br />

tentarei demonstrar mais à frente, ambas têm muito em comum: partilham conceitos,<br />

preocupações, a recusa de sistemas fecha<strong>do</strong>s, o mo<strong>do</strong> de pensar metafórico, etc.<br />

O primeiro problema, a tendência homogeneiza<strong>do</strong>ra, surge logo numa das obras<br />

funda<strong>do</strong>ras e estruturantes <strong>do</strong> campo em questão. De facto, The Empire Writes Back (1989,<br />

2002) não só participou na criação de uma teoria que supostamente dava conta de práticas<br />

literárias inéditas, como estruturou, ou melhor mapeou, o campo nascente pela sua escolha<br />

de obras e de conceitos. Acrescenta-se que até certo ponto se institucionalizou e ganhou<br />

um capital simbólico consequente, a julgar, pelo menos, pelo número de universidades que<br />

utilizam o texto nos seus programas (Smouts, 2007). Uma rápida análise evidencia uma<br />

conceção totalizante, homogeneiza<strong>do</strong>ra, <strong>do</strong> conceito de «literaturas pós-coloniais», o que,<br />

como que por uma espécie de contágio, afasta de vez o potencial heurístico <strong>do</strong> substantivo<br />

pós-<strong>colonial</strong>. Para dizê-lo por outras palavras, onde um Mbembe vê «pensée éclatée» ou<br />

ainda «enchevêtrement et concaténation» (2006ª) ou ainda polissemia e heterogeneidade<br />

(2006 b ), Ashcroft, Griffiths e Tiffin veem espaços e textos, apagan<strong>do</strong> diferenças e<br />

subtilezas. Tanto na primeira edição como na segunda, onde tentam responder às críticas<br />

de que foram alvos, defendem esta perspetiva sobre as literaturas pós-coloniais:<br />

We use the term ‘post-<strong>colonial</strong>’, however to cover all the culture affected by the<br />

imperial process from the moment of colonization to the present day. This is<br />

because there is a continuity of preoccupations throughout the historical process<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!