24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

necessária «tradução» <strong>do</strong>s textos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> para os nativos da língua, tenho de<br />

«traduzir» /traduzir textos escritos em espaços culturais que me são estranhos, sem<br />

contu<strong>do</strong> reproduzir a «tradução» etnocêntrica e <strong>colonial</strong>.<br />

II.2. A «FRONTEIRA» EM MOVIMENTO OU A FRONTEIRA COMO<br />

METÁFORA<br />

À semelhança da «tradução», o conceito de «fronteira» situa-se no âmago das<br />

preocupações teóricas pós-coloniais. Com o recurso à metáfora, a «fronteira» enriqueceu<br />

significativamente o leque semântico da fronteira stricto sensu. À semelhança da «tradução»<br />

ainda, a «fronteira» é nitidamente encarada por vários teóricos de maneira positiva: lugar de<br />

emancipação <strong>do</strong> sujeito, lugar também da possibilidade de um pensamento outro. A<br />

metáfora levou o conceito para longe da sua etimologia militar. E se, de facto, tanto a<br />

«fronteira» como a fronteira são lugares de tensão, de encontro, de fricção ou ainda de<br />

hibridação, então é igualmente necessário recorrer à tradução/«tradução».<br />

A articulação entre ambos os conceitos encontra-se num <strong>do</strong>s últimos textos de<br />

Ricoeur, publica<strong>do</strong> no Le Monde em 2004, dedica<strong>do</strong> à maneira como a humanidade (o que<br />

permanece de singular no ser humano independentemente da cultura onde se insere e se<br />

narra) consegue conviver com a pluralidade das culturas e das línguas. Logo de início, o<br />

filósofo deixa claro que, para ele, só existe uma fronteira: o conceito geopolítico encara<strong>do</strong><br />

no seu senti<strong>do</strong> literal (delimitação entre Esta<strong>do</strong>s como limite ao exercício da soberania).<br />

Subentende-se que rejeita a antiga conceção, de pen<strong>do</strong>r nacionalista, da delimitação<br />

fronteiriça das culturas onde os limites de cada Esta<strong>do</strong> corresponderiam supostamente aos<br />

limites de uma cultura (encarada como una e homogénea) e de uma língua, ambas com<br />

pretensão hegemónica no interior das suas fronteiras. O que significa que impede qualquer<br />

uso metafórico <strong>do</strong> termo, o que não deixa de espantar num autor que colocou esta figura<br />

no centro <strong>do</strong> seu trabalho de hermeneuta. A fronteira corresponde aqui ao que afasta as<br />

culturas umas das outras e dá imperfeitamente conta da realidade de culturas em contacto.<br />

Ricoeur privilegia a noção de irradiação a partir de uma multiplicidade de focos ou<br />

de centros que se influenciam mutuamente:<br />

53

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!