24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Unidas. Eis o que dizia num artigo <strong>do</strong> matutino belga Le Soir : «Comme en Irak, comme en<br />

Afghanistan, nous allons assister en Côte d’Ivoire à une sorte de restauration<br />

néo<strong>colonial</strong>e…» (Galy in Braeckman, 2011). O mesmo autor opunha-se veementemente às<br />

intervenções da ONU e da França e defendia a continuação das negociações entre Laurent<br />

Gbagbo e Alassane Ouattara («Il y avait encore de l’espace pour cela, des champs de<br />

manoeuvre…»). Além disso, como o notaram outros analistas de uma certa imprensa<br />

ocidental, as forças da ONU ultrapassaram largamente o mandato original:<br />

L’un des points, c’est qu’il fallait protéger les civils. Or les armes lourdes de Gbagbo<br />

ont été visées et détruites, mais celles de Ouattara sont demeurées intactes. En<br />

outre, des informations précisent les soutiens, entre autres français, <strong>do</strong>nt ont<br />

bénéficié les rebelles de Ouattara appelés aujourd’hui ‘forces républicaines’: des<br />

éléments des forces spéciales françaises ont combattu à leurs côtés. (Galy in<br />

Braeckman, 2011)<br />

Para Galy, os acontecimentos e a implicação <strong>do</strong> aparelho militar <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> francês<br />

relembram táticas similares utilizadas noutros contextos para organizar a relação de<br />

dependência:<br />

La mécanique qui se déroule en ce moment me rappelle d’autres moments: on<br />

diabolise un leader qu’on n’aime pas, on le sabote, on <strong>do</strong>nne un habillage juridique<br />

à une opération qualifiée d’internationale, la force finit par l’emporter et on se<br />

retrouve avec un État ‘client’ qui reproduit le schéma post-<strong>colonial</strong>. (Galy in<br />

Braeckman, 2011)<br />

A convergência de interesses entre Ouattara e a administração Sarkozy permite<br />

justamente colocar uma das perguntas mais incómodas relativamente ao Esta<strong>do</strong> pós-<br />

<strong>colonial</strong> como origem da desgraça que assola as populações civis, a saber o papel opressor<br />

desempenha<strong>do</strong> por outros Esta<strong>do</strong>s africanos, o paradigma neste caso sen<strong>do</strong> a situação da<br />

República Democrática <strong>do</strong> Congo (RDC). Como aponta Braeckman (2009), a origem da<br />

desgraça também deve ser procurada noutros Esta<strong>do</strong>s pós-coloniais africanos implica<strong>do</strong>s,<br />

em graus diversos, na ocupação <strong>do</strong> território, exploração <strong>do</strong>s recursos naturais e exações<br />

contra a população civil. Os novos preda<strong>do</strong>res que descreve esta jornalista, tida como uma<br />

das melhores conhece<strong>do</strong>ras da história <strong>do</strong> Congo independente, são países vizinhos da<br />

RDC (Ruanda, Uganda, Angola, Zimbabué) que invadiram parte <strong>do</strong> país durante as duas<br />

guerras que se seguiram à queda de Mobutu (I a . 1996-1997 II a . 1998-2002) com objetivos<br />

356

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!