24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ser sobreposto às afirmações de um Chevrel ou de um Guillén. Assim, para ele, a teoria<br />

pós-<strong>colonial</strong> é aberta e inova<strong>do</strong>ra, porque trata de objetos novos que põem em causa<br />

categorias antigas, o que equivale à rejeição de sistemas narratológicos cerra<strong>do</strong>s:<br />

Elle ne se ramène pas à l’énoncé a priori de principes disciplinaires (traditionnels ou<br />

non) issus d’Europe. Elle s’attache en réalité à l’enracinement socio-culturel de la<br />

création littéraire. (Moura, 2001: 166)<br />

Mais tarde, voltará Moura a insistir nesta necessidade de ligação entre o literário e o<br />

social como sen<strong>do</strong> uma das marcas meto<strong>do</strong>lógicas da abordagem pós-<strong>colonial</strong> e<br />

comparativa. O que diz a propósito das literaturas de língua francesa oriundas das ex-<br />

colónias não diverge muito <strong>do</strong> que acontece noutros contextos, nomeadamente com as<br />

literaturas de língua portuguesa: «Une large partie des lettres francophones relèvent de<br />

dynamiques historiques <strong>colonial</strong>es <strong>do</strong>nt les effets présents sont tout sauf anodins» (Moura,<br />

2007 b : 111). Daí a necessidade de ler as obras de outra maneira, o que não significa que seja<br />

preciso considerar cada romance congolês ou angolano como um <strong>do</strong>cumento, um mero<br />

reflexo das sociedades onde foram escritos (perder-se-ia assim parte substancial <strong>do</strong> que é<br />

um texto literário: um objeto estético, uma criação artística determinada por um conjunto<br />

de atos e decisões mais ou menos conscientes), mas antes «d’instiller un sens politique à<br />

l’étude littéraire» (Moura, 2007 b : 111). 35<br />

Esta transgressão das fronteiras por parte <strong>do</strong>s teóricos <strong>do</strong>s campos em questão terá<br />

como consequência um questionamento <strong>do</strong> conceito de literatura nacional e um<br />

enfraquecimento de um centro considera<strong>do</strong> ao mesmo tempo como norma a seguir e lugar<br />

simbólico da legitimação. Para parafrasear Moura (2007), o centro tende assim a perder<br />

importância em prol das margens, o que o próprio centro tem de admitir, embora com<br />

certa relutância. É o que Lazarus (2004: 76-77) apontava com pertinência ao falar <strong>do</strong> ensino<br />

das literaturas inglesas e francesas pós-Segunda Guerra Mundial: seria de facto<br />

«anacrónico» ignorar os escritores pós-coloniais ou questões como a descolonização ou<br />

ainda os migrantes das ex-colónias.<br />

35 Noutro lugar, Moura volta à postura <strong>do</strong> crítico pós-<strong>colonial</strong> empenha<strong>do</strong> pelo objeto de estu<strong>do</strong>. Tal como o<br />

escritor de Sartre, o crítico também está situa<strong>do</strong> (Capítulo VII.3): «La perspective post<strong>colonial</strong>e naît d’un sens<br />

politique de la critique littéraire, nécessaire en maintes régions du monde» (Moura, 2007 a : 13). Talvez isto faça<br />

mais senti<strong>do</strong> num contexto marca<strong>do</strong>, até estrutura<strong>do</strong>, pelo fenómeno político. É o que julgava pelo menos o<br />

crítico nigeriano Chidi Amuta em 1989: «It is not possible, even if it appears convenient, to practice literary<br />

theory and criticism as an abstract, value-free and politically sanitized undertaking in a continent which is the<br />

concentration of most of the world’s afflictions and disasters… It is not possible to talk of literature and<br />

beauty or even to remain intelligent and credible in any area of academic discourse without taking our<br />

bearings from these unsettling realities» (Amuta apud Moura, 2007 a : 14).<br />

32

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!