24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

parafrasear Claudio Guillén, ignoraria. Encontramo-nos com esta reflexão no cerne das<br />

preocupações comparatistas, pois o que os teóricos deste campo têm vin<strong>do</strong> a defender é<br />

justamente a necessidade da deslocação das obras, a impossibilidade de encaixar, ou seja, de<br />

reduzir grande parte <strong>do</strong>s escritores ao seu contexto meramente nacional. É o que Guillén<br />

analisava subtilmente numa obra de referência:<br />

Es erróneo tener presente, como modelo o imagen del gran escritor, a quien encaja<br />

perfectamente en el homogéneo entorno cultural que le rodea, ciñén<strong>do</strong>se a una sola<br />

lengua, un sistema literario único, unos procedimientos cerra<strong>do</strong>s de versificación,<br />

un círculo social suficiente. (Guillén, 1985: 22)<br />

O que esta citação evidencia é a inevitável tensão própria a grande parte <strong>do</strong>s textos<br />

literários entre um local mais ou menos evidente (a língua de escrita, o seu contexto<br />

espacial e temporal, o seu cronotopo etc.) e um supranacional ou universal (o leitor<br />

longínquo, crítico ou não, que na maior parte <strong>do</strong>s casos entrará em contacto com a obra<br />

através da tradução). Ou seja, se uma obra diz quase sempre algo sobre o esta<strong>do</strong> espacial e<br />

temporal da sociedade onde foi escrita, ou na qual se insere, significa também muito mais,<br />

significa além da fronteira onde é lida e entendida. Escrita num determina<strong>do</strong> lugar e, em<br />

parte (mas em parte só) determinada por este lugar, a obra acaba sempre por viajar, por<br />

deixar o lugar de origem. Guillén, incontornável neste ponto, defendia com justeza que<br />

muitas vezes é o próprio escritor que se afasta <strong>do</strong> seu âmbito cultural de origem (exila-se ou<br />

é exila<strong>do</strong>, por exemplo) e que procura novas formas de ver e de escrever o seu mun<strong>do</strong> em<br />

obras de colegas estrangeiros (Guillén, 1985: 22).<br />

O que transparece aqui como noutros trabalhos críticos (Buescu, 2001; Moura,<br />

2001; Moura, 2007 a ; Moura, 2007 b ) é a dialética inerente à ciência comparativa da literatura.<br />

Por um la<strong>do</strong>, perante a multiplicidade intrínseca das produções literárias, é difícil aceitar e<br />

pensar sem mais a suposta universalidade/unidade de um fenómeno da<strong>do</strong> (a tragédia, por<br />

exemplo):<br />

No to<strong>do</strong> es devir, ni to<strong>do</strong> continuidad. Pues tratán<strong>do</strong>se de literatura escrita, más<br />

que de folklore o de mitología, el saber histórico conlleva un processo constante de<br />

diferenciación. To<strong>do</strong>s los temas – hasta el amor y la muerte – se fragmentan y<br />

subdividen. (Guillén, 1985: 31)<br />

Os fenómenos literários mudam, mas, por outro la<strong>do</strong>, como acrescenta Guillén a<br />

seguir, se tu<strong>do</strong> (formas e emoções) mudasse constantemente, nenhum <strong>do</strong>s elementos<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!