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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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difundir-se, de maneira mais ou menos consciente, ou seja «il peut imprégner les gestes civils,<br />

comme les gestes professionnels ‘sans y penser’» (Lorcerie, 2007: 325. Enfâse minha).<br />

Vejo uma ilustração deste «primordialisme national» nos estereótipos que veiculam<br />

os manuais escolares. Um recente estu<strong>do</strong> encomenda<strong>do</strong> pela Haute Autorité de Lutte contre les<br />

Discriminations et pour l’égalité (HALDE) à Universidade de Metz evidencia que se, por um<br />

la<strong>do</strong>, as representações <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> desapareceram de to<strong>do</strong>s os manuais e se as<br />

minorias começam a ganhar alguma visibilidade, por outro la<strong>do</strong>, mantêm-se alguns clichés<br />

relativos aos Sul <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A hipótese de trabalho <strong>do</strong>s investiga<strong>do</strong>res remete para a<br />

presença <strong>do</strong> esquema cognitivo <strong>do</strong> qual falava Lorcerie:<br />

La singularité de cette étude est de s’intéresser aux stéréotypes, non pas en tant que<br />

schémas cognitifs propres à un sujet ou à un groupe social, mais en tant que<br />

représentations figuratives ou textuelles à l’intérieur d’un manuel. Néanmoins, en<br />

tant que produits d’institutions de la société française, nous considérons que le<br />

manuel constitue une projection de celle-ci […]. A ce titre, il nous appartient de<br />

vérifier si les représentations des différents groupes véhiculées par les catégories<br />

sociales présentes dans les manuels scolaires sont le reflet de stéréotypes en vigueur<br />

dans la société française. (Tisserant e Wagner, 2008: 63)<br />

Os autores estudaram o texto e as imagens <strong>do</strong>s manuais e entrevistaram também<br />

professores e alunos a fim de averiguar como os públicos os liam e entendiam. O principal<br />

problema aponta<strong>do</strong> pela HALDE tem a ver com as representações da África negra, muitas<br />

vezes associada à pobreza, à fome, à violência e nunca às outras modernidades que assim<br />

vão sen<strong>do</strong> produzidas como não existentes. Citam uma fotografia reproduzida para ilustrar<br />

a solidariedade da UE para com os países mais pobres: em plano aproxima<strong>do</strong>, a mão<br />

famélica de uma criança negra a ser segurada pela mão de um adulto branco. Nos manuais<br />

de História analisa<strong>do</strong>s, o negro é quase sistematicamente associa<strong>do</strong> ao comércio de<br />

escravos e à discriminação nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, o que consciente ou inconscientemente<br />

continuaria a insinuar uma ligação natural entre o negro e o seu estatuto de subalterniza<strong>do</strong><br />

(escravo ontem, discrimina<strong>do</strong> ontem, refugia<strong>do</strong> hoje).<br />

Esta impregnação, ou personalidade <strong>colonial</strong> ou ainda <strong>colonial</strong>idade <strong>do</strong> ser, que se<br />

traduz em representações sempre já disponíveis e em comportamentos explica a razão pela<br />

qual, a partir deste prisma, as ex-metrópoles coloniais são, tal como as antigas colónias,<br />

Esta<strong>do</strong>s pós-coloniais (daí, entre outras razões, a minha reticência inicial em utilizar o<br />

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