24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

amizade entre os <strong>do</strong>is jovens acaba naquela altura, o primeiro encetan<strong>do</strong> a sua ascensão e o<br />

segun<strong>do</strong> continuan<strong>do</strong> dentro <strong>do</strong> parti<strong>do</strong> a lutar em prol da emancipação coletiva.<br />

A evolução futura de Caposso, o seu projeto de se tornar um intermediário entre o<br />

merca<strong>do</strong> local e o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> capital, relembram uma vez mais a análise de Fanon. Este<br />

percebera que a meta da neo-burguesia era justamente servir de intermediário com as<br />

grandes empresas internacionais desejosas de permanecerem ou de entrarem no país.<br />

Como vimos no capítulo dedica<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, esta burguesia favoreceu assim<br />

a reprodução de uma relação de dependência com as ex-potências coloniais («le masque<br />

néo-<strong>colonial</strong>iste» no trecho seguinte):<br />

La bourgeoisie nationale se découvre la mission historique de servir d’intermédiaire.<br />

Comme on le voit, il ne s’agit pas d’une vocation à transformer la nation, mais<br />

prosaïquement à servir de courroie de transmission à un capitalisme acculé au<br />

camouflage et qui se pare aujourd’hui du masque néo-<strong>colonial</strong>iste. (Fanon, 2002:<br />

148-149)<br />

A utilização de Fanon parece-me pertinente não só porque o intelectual caribenho<br />

descreveu, se bem que de um mo<strong>do</strong> geral, os perigos que ameaçavam justamente os novos<br />

países, mas igualmente porque permite estabelecer, uma vez mais, uma ligação entre textos<br />

de natureza diferentes, mas que, cada um com as suas especificidades, chegam a conclusões<br />

semelhantes. Contu<strong>do</strong>, reler Fanon a partir deste romance é mais significativo no contexto<br />

de uma obra onde o pensamento de Fanon faz parte das reflexões de algumas personagens,<br />

aparecen<strong>do</strong> assim como um intertexto. Em A Geração da Utopia, por exemplo, a exegese a<br />

Les damnés de la terre é integrada na diegese, ou seja, o texto romanesco torna-se a certa<br />

altura análise textual <strong>do</strong> pensamento fanoniano (Pepetela, 2007: 95, 97-98).<br />

Se alguns críticos procuram saber o que o escritor leu para explicar o que escreveu,<br />

creio, no caso de Pepetela, mais pertinente perguntar o que é que as suas personagens lêem.<br />

Assim se percebe em que medida o que Elias diz a Vítor a propósito de Frantz Fanon ecoa<br />

como numa espécie de intertexto treze anos mais tarde: «É absolutamente indispensável ler<br />

Fanon, para entender o presente e o futuro <strong>do</strong>s nossos países» (Pepetela, 2007: 95).<br />

Retomar à letra esta exortação ajuda assim o hermeneuta a entender parte <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s<br />

que atravessam A Geração da Utopia bem como outros romances como O Desejo de Kianda e,<br />

claro, Preda<strong>do</strong>res.<br />

340

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!