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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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inconditionnalité et du régime d’impunité qui en était le corollaire. (Mbembe, 2005:<br />

44) 96<br />

Mbembe recupera aqui o trabalho incontornável de Mamdani (1996), que estu<strong>do</strong>u a<br />

génese <strong>colonial</strong> <strong>do</strong> despotismo descentraliza<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>. Em Citizens and Subjects, este<br />

último apontou o despotismo descentraliza<strong>do</strong> como uma das heranças mais dura<strong>do</strong>iras <strong>do</strong><br />

<strong>colonial</strong>ismo. Quan<strong>do</strong> criaram instituições indígenas, os coloniza<strong>do</strong>res alegavam ter-se<br />

inspira<strong>do</strong> nos modelos locais, na tradição («Um Rei que <strong>do</strong>mina uma região, um chefe uma<br />

aldeia», era este o modelo que os coloniza<strong>do</strong>res achavam comum a toda a África central).<br />

Posteriormente, estes modelos foram denuncia<strong>do</strong>s por muitos como mera invenção. Para<br />

Mamdani, a realidade é mais matizada:<br />

The customary in this sense, was neither arbitrarily invented […] nor faithfully<br />

reproduced. It was crafted out of raw material on the ground and in contention<br />

with it. Out of this process, this statecraft, was forged the decentralized despotism<br />

that came to be the hallmark of the <strong>colonial</strong> state in Africa. (Mamdani, 1996: 38-<br />

39)<br />

De facto, os coloniza<strong>do</strong>res inspiraram-se em experiências locais que foram<br />

analisadas de maneira a servir os seus projetos para o continente, mas é preciso não<br />

esquecer que este sistema, por um la<strong>do</strong>, resultou de uma interpretação/reorganização e, por<br />

outro, foi aos poucos sen<strong>do</strong> alvo de um processo de essencialização («O despotismo era<br />

tradição entre os africanos e estes só entendem a linguagem da força») e de<br />

estagnação/paralisação no tempo («Foi sempre assim»). Historia<strong>do</strong>res como Ki-Zerbo<br />

(1978), Ade-Ajayi (1997) e M’Bokolo (2004) vão no senti<strong>do</strong> oposto ao apontarem para a<br />

multiplicidade de formas de governação em to<strong>do</strong> o continente no século XIX: das<br />

formações estatais mais centralizadas, com ordem hierárquica bem definida, cobrança de<br />

impostos, criação de arquivo, etc, a um mo<strong>do</strong> de governação menos autoritário e menos<br />

formal nos Esta<strong>do</strong>s não centraliza<strong>do</strong>s, existia um leque de práticas governativas que estão<br />

longe de corresponder à simples alternativa Esta<strong>do</strong> centraliza<strong>do</strong>r despótico vs sociedade<br />

96 Para alguns comenta<strong>do</strong>res, esta articulação entre violência <strong>colonial</strong> e violência pós-<strong>colonial</strong> constituiria um<br />

<strong>do</strong>s pontos positivos <strong>do</strong> ensaio de Mbembe. Eis, por exemplo, o que escreveu Catherine Coquery-Vidrovitch<br />

na sua recensão ao livro: «La nouveauté de la démonstration réside dans le lien établi avec force entre<br />

l’arbitraire <strong>colonial</strong> et le pouvoir post<strong>colonial</strong>, alors que la littérature historique, suivant en ceci le discours<br />

politique <strong>do</strong>minant, a plutôt eu naguère tendance à relier les potentats contemporains aux chefs précoloniaux.<br />

Cette tendance demeure aujourd'hui celle des spécialistes du présent, politologues ou journalistes peu<br />

informés de par leur formation et leur spécialité sur l’histoire du continent : pour beaucoup, la colonisation<br />

n’a que trop tendance à ne représenter désormais qu’une parenthèse.» (Coquery-Vidrovitch, 2001).<br />

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