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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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[...] l’on voit bien que ces coïncidences sont pour ainsi dire éclatées dans les textes:<br />

ni dans Bintou ni dans Fama, on ne retrouve intact le modèle grec; ses empreintes<br />

sont décelables, mais en même temps brouillées, éparpillées par une écriture<br />

iconoclaste qui refuse la sacralisation du modèle occidental. (Soubrier, 2004: 143).<br />

Os textos de Kwahulé evidenciam outras influências que, por sua vez, colocam o<br />

modelo a uma certa distância: o jazz que acompanha o coro em Bintou e as literaturas<br />

africanas (o romance palimpsesto de Kourouma em Fama). Comenta ainda Soubrier que, se<br />

uma certa tradição teatral utiliza o coro para sublinhar o seu la<strong>do</strong> obsoleto, um Kwahulé,<br />

pelo contrário, utiliza-o como lugar da interrogação e da reflexão política.<br />

Embora esta importante produção crítica descreva com profundidade as ligações<br />

entre o teatro grego e as tragédias africanas de língua inglesa e francesa, não se interessa<br />

pela tragédia como estrutura e pelo trágico como “efeito de sintaxe”. Porém, talvez a mais<br />

importante ligação, ou conexão, entre textos teatrais de ambos os continentes resida na<br />

tragédia como estrutura, ou seja, uma tragédia que não precisa de reescrever os Clássicos<br />

gregos para existir.<br />

V.4. UNE SAISON AU CONGO: TRAGÉDIA DO ESTADO PÓS-<br />

COLONIAL E TRANSFORMAÇÃO DE LUMUMBA EM<br />

PERSONAGEM TRÁGICA<br />

Uma vez Édipo e Antígona deixa<strong>do</strong>s de la<strong>do</strong>, o que resta é um modelo, a tragédia,<br />

apto, pela sua estruturação em torno de tensões entre normas opostas, a descrever o trágico<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>. É o que acontece com Aimé Césaire, que recupera, incorpora,<br />

digere a tragédia europeia para reescrever um outro ponto de vista. Sabe-se hoje que a<br />

apetência de Césaire pelo teatro tem a sua origem, em parte, na descoberta, na Paris <strong>do</strong>s<br />

anos 1930, das encenações das tragédias de Jean Girau<strong>do</strong>ux por Louis Jouvet (Fonkoua,<br />

2010: 288). Ele não só encontra em Girau<strong>do</strong>ux reescritas de mitos e tragédias gregas, mas<br />

igualmente um padrão para ele próprio escrever a sua primeira tragédia. 191 Para o escritor<br />

da Martinica, a tragédia significava ainda a possibilidade de encenar a luta de um homem<br />

191 «L’étudiant noir attiré par l’œuvre de Girau<strong>do</strong>ux et fasciné par Jouvet entre ainsi, grâce à eux, dans les<br />

coulisses du théâtre français de l’entre-deux-guerres. S’il jouit du spectacle, s’imprègne de l’atmosphère, il en<br />

tire surtout des leçons qui serviront à l’écriture de sa tragédie.» (Fonkoua, 2010: 290). Fonkoua acrescenta<br />

uma outra fonte para a conceção da tragédia em Césaire, o Nietzsche de Nascimento da Tragédia (ibid.).<br />

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