24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

foram defini<strong>do</strong>s através de um discurso com pretensões hegemónicas. 19 Nas suas «Notas<br />

sobre o pós-<strong>colonial</strong>», Shohat não hesitou em estabelecer um paralelismo com um certo<br />

discurso <strong>colonial</strong>:<br />

The unified temporality of post<strong>colonial</strong>ity risks reproducing the <strong>colonial</strong> discourse<br />

of an allochronic other, living in another time, still lagging behind us, the genuine<br />

post<strong>colonial</strong>. The globalizing gesture of the post<strong>colonial</strong> condition, or<br />

post<strong>colonial</strong>ity, <strong>do</strong>wnplays multiplicities of location and temporality as well as the<br />

possible discursive and political linkages between post<strong>colonial</strong> theories and<br />

contemporary anti<strong>colonial</strong> or anti-neo<strong>colonial</strong> struggles and discourses. (Shohat,<br />

2000: 131)<br />

De um ponto de vista literário, este tipo de discurso deixa de la<strong>do</strong> uma outra<br />

multiplicidade, a de textos e autores que se encontram em temporalidades diferentes, que<br />

até reivindicam vivências temporais diferentes <strong>do</strong> que se tem considera<strong>do</strong> como o<br />

paradigma e a referência. Assim, o escritor haitiano Lyonel Trouillot, numa contribuição<br />

para o volume Pour une littérature-monde, recusava a noção de littérature-monde en français no<br />

singular para defender o plural, por remeter para a diversidade <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em questão,<br />

nomeadamente no que toca à variedade de tempos que coexistem:<br />

Il n’y a pas de tronc commun, une seule lecture à faire de tout le réel. Et aucune<br />

société n’a le droit d’imposer son âge comme la norme. Et aucun écrivain digne de<br />

ce nom ne peut se laisser piéger par l’illusion d’un âge qui serait l’âge du monde et<br />

déterminerait les choses à dire. Les littératures, dans leur saisie du référent, ne<br />

disent que des parcelles du monde, sa fragmentation. (Trouillot, 2007: 201)<br />

Esta homogeneização de um conjunto de experiências, espaços e tempos díspares<br />

leva os autores de The Empire Writes Back a a<strong>do</strong>tar uma perspetiva comparativa (falam, e o<br />

adjetivo é aqui essencial, de «inherently comparative metho<strong>do</strong>logy», 35). Já que todas as<br />

literaturas pós-coloniais são o resulta<strong>do</strong>/produto da experiência <strong>colonial</strong>, então torna-se<br />

igualmente legítimo, em primeiro lugar, colocá-las ao mesmo nível e, em segun<strong>do</strong> lugar,<br />

compará-las para evidenciar o que se anunciava nas premissas, a saber, a partilha de uma<br />

poética, de uma relação particular com a língua <strong>do</strong> coloniza<strong>do</strong>r, de uma ligação própria ao<br />

lugar, etc. Num tom muito assertivo que, como tal, impede qualquer possibilidade de<br />

19 Balandier sublinhou recentemente esta tendência de uma certa corrente teórica pós-<strong>colonial</strong> oriunda <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> anglo-saxónico para apagar as diferenças: «Si l’on parle d’univers post<strong>colonial</strong>, il faut mettre<br />

l’expression au pluriel – univers ‘postcoloniaux’ –, refuser le cléricalisme d’un univers post<strong>colonial</strong> unique et<br />

considérer le ‘multi post<strong>colonial</strong>’» (Balandier, 2007: 20).<br />

18

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!