24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Relativamente ao inglês nota-se no Collins uma interessante inversão <strong>do</strong>s<br />

significa<strong>do</strong>s, pois, em primeiro lugar, surge o senti<strong>do</strong> figura<strong>do</strong> da palavra «tragedy» («A<br />

shocking or sad event»), o que não deixa de fazer senti<strong>do</strong>, já que num certo senso comum a<br />

palavra nem chega a evocar uma prática literária. Ao se descrever o senti<strong>do</strong> próprio,<br />

também se inova na medida em que não se contempla somente a tragédia clássica, seja ela<br />

grega, francesa ou inglesa, mas outras formas de arte: «A serious play, film or opera in<br />

which the main character is destroyed by a combination of a personal failing and adverse<br />

circumstances. Greek tragedy».<br />

À exceção <strong>do</strong> dicionário Van Dale, mas com a ambiguidade que assinalei, os<br />

dicionários definem ainda o substantivo (o trágico) como sen<strong>do</strong> o que é próprio à tragédia,<br />

ao género trágico, ou o que remete para o autor de tragédias. Para encontrar uma descrição<br />

<strong>do</strong> uso <strong>do</strong> adjetivo substantiva<strong>do</strong> é preciso recorrer a dicionários especializa<strong>do</strong>s de<br />

literatura, o que já nos afasta <strong>do</strong> trabalho sobre o senso comum. Relativamente à tragédia<br />

retenhamos desde já que, independentemente das línguas aqui referidas, o senso comum<br />

vê-a como uma obra de arte séria que coloca uma personagem numa situação em que é<br />

levada, por uma série de circunstâncias, a experimentar a <strong>do</strong>r, a infelicidade ou a morte.<br />

Como se nota, as definições remetem tanto para a tonalidade da peça (séria) como para o<br />

seu conteú<strong>do</strong>. Le Robert contempla também, numa perspetiva supostamente aristotélica, o<br />

efeito da tragédia no recetor: a tragédia «excita o terror ou a piedade» - subentende-se - no<br />

espeta<strong>do</strong>r. Dizia supostamente aristotélica pois, para o autor da Poética, o que deve procurar<br />

uma «boa» tragédia é suscitar o terror e a piedade (e não ou). Por fim, o neerlandês e o<br />

inglês apontam para a possibilidade de associar a tragédia a outras práticas ou outras formas<br />

artísticas (o drama burguês, o cinema) que não as tragédias em senti<strong>do</strong> estrito.<br />

Esta evolução semântica aponta para uma série de significa<strong>do</strong>s eles próprios<br />

veicula<strong>do</strong>s em textos de natureza diversa para os quais apontei na introdução a esta secção.<br />

Passemos agora, numa perspetiva pragmática, a um estu<strong>do</strong> de situações onde surgem os<br />

signos «trágico» e «tragédia» de mo<strong>do</strong> a evidenciar em que medida o senso comum se<br />

aproxima, consciente ou inconscientemente, <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> literário e <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> filosófico.<br />

153

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!