24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ses aptitudes [as de Ntambue] ont déjà été reconnues par les pouvoirs légitimes. Le<br />

Prince mérite bien d’hériter du trône de son défunt Père, oui ou non? Même s’il<br />

n’en possédait pas un. La tradition le recommande. Vous devrez l’introniser selon<br />

vos mœurs, coutumes et traditions. (I, V)<br />

Este trecho evidencia que na nova relação de subordinação as aparências de<br />

legalidade são valorizadas pelo poder central. A comunidade local torna-se um<br />

«protetora<strong>do</strong>» e o dirigente um «gerente de distrito», um «déspota» esclareci<strong>do</strong> pelo poder<br />

central, cuja principal missão será manter a ordem pública no território. O exército<br />

enquadra e delimita o seu poder e simultaneamente controla a oposição. Eis como o Oficial<br />

descreve as suas funções:<br />

Nos troupes seront postées dans la région pour protéger la population laborieuse et<br />

pour garantir la sécurité et la tranquillité de tous. Une force d’intimidation et de<br />

dissuasion très performante. Mais également une force de frappe, qui frappera à la<br />

première révolte. Qui frappera dur. (II, 2)<br />

Enquanto mega-estrutura que <strong>do</strong>mina a vida <strong>do</strong>s sujeitos, o exército surge na peça<br />

como uma das fontes <strong>do</strong> mal e consequentemente como uma das origens <strong>do</strong> trágico. O<br />

próprio Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, ao conceber a força e a violência como mo<strong>do</strong> de gestão da<br />

população, antevê possíveis resistências à coerção: não se trata só de intimidar os civis, mas<br />

também de reprimir os inevitáveis levantamentos. Num ensaio sobre as figuras da<br />

resistência na obra de Nkashama, Moussa Sow insiste na importância de praticar uma<br />

arqueologia da violência pós-<strong>colonial</strong>:<br />

Pour comprendre la dialectique qui établit l’Afrique comme un vrai laboratoire de<br />

violence, il importe de reconsidérer l’expérience <strong>colonial</strong>e et d’observer dans quelle<br />

mesure elle semble préparer, sous bien des rapports, les grands bouleversements<br />

politiques de l’Afrique contemporaine. (Sow, 2007: 282)<br />

Num processo gradual, acrescenta Sow, a violência torna-se instrumento <strong>do</strong> poder,<br />

um instrumento que banaliza as práticas mais extremas. No caso <strong>do</strong> Zaïre de Mobutu, que<br />

é o contexto a partir <strong>do</strong> qual escreve Nkashama, a recuperação <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s coloniais é<br />

assaz evidente: «Une logique de continuité dans l’occupation de l’espace africain, issue de la<br />

reprise d’un discours adéquat et des méthodes coloniaux, transparaît bien ici, alors qu’on<br />

pouvait croire qu’il disparaîtrait avec les indépendances» (Sow, 2007: 284).<br />

251

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!