24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

posicionamento das suas «fronteiras», nomeadamente ao nível <strong>do</strong> cânone. E isto não só<br />

porque o questionar <strong>do</strong> cânone ocidental faz parte das suas práticas mais subversivas (o<br />

trabalho de Césaire em Une Tempête é aqui sem dúvida um <strong>do</strong>s paradigmas), mas também<br />

porque as suas próprias obras começam a ser integradas num cânone mais amplo, menos<br />

fecha<strong>do</strong> e menos eurocêntrico (a obra de Césaire é mais uma vez exemplo disto). Como<br />

veremos mais à frente (Capítulos VI e VII), tanto Sony Labou Tansi como Pepetela<br />

conseguiram entrar no campo com textos que questionavam as grandes categorias (a<br />

personagem, a fábula, etc.) tanto <strong>do</strong> teatro como <strong>do</strong> romance.<br />

Relativamente à teoria da fronteira, falta-me, antes de concluir, examinar com<br />

Mignolo (2000 a , 2000 b ) o que significa pensar na «fronteira». À semelhança de outros<br />

pensa<strong>do</strong>res latino-americanos (Dussel, por exemplo), Mignolo situa-se noutro lugar de<br />

enunciação e, a partir deste, dá a ouvir outras vozes, outras perspetivas. O que é preciso,<br />

para ele, é contar as outras histórias da modernidade, as histórias que foram apagadas e<br />

esquecidas pela modernidade ocidental a partir das «fronteiras» <strong>do</strong> sistema-mun<strong>do</strong>. No<br />

entanto, contar outras histórias dentro <strong>do</strong>s moldes fixa<strong>do</strong>s pelo Ocidente significaria<br />

continuar a pensar a partir <strong>do</strong> centro. Pensar na fronteira só faz senti<strong>do</strong> se for radica<strong>do</strong><br />

numa epistemologia diferente:<br />

These are not only counter or different stories; they are forgotten stories that bring<br />

forward, at the same time, a new epistemological dimension: an epistemology of<br />

and from the border of the modern/<strong>colonial</strong> world system. (Mignolo, 2000 b : 52)<br />

Noutro ensaio, Mignolo precisa o que entende por um epistemologia diferente: «In<br />

this context, border gnosis is a form of subaltern rationality, a way of thinking from the<br />

spaces in between local histories and universal knowledge» (Mignolo, 2000 a : 87).<br />

Este conhecimento/pensamento fronteiriço só poderia ser possível a partir de<br />

contextos marca<strong>do</strong>s pelas violências coloniais (física, epistemológica…), a partir de um<br />

local, as margens, onde o intelectual pós-<strong>colonial</strong> consegue ler/pensar ao mesmo tempo as<br />

histórias locais e o desígnio global. Para dizê-lo de outra maneira, somente o intelectual <strong>do</strong><br />

Sul conseguiria escrutinar, com o olhar privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser radica<strong>do</strong> algures na «fronteira», a<br />

herança da modernidade <strong>colonial</strong> e evidenciar as histórias alternativas. Neste ponto, o<br />

maior problema que vejo em Mignolo é a tendência para encarar as histórias locais no<br />

interior das fronteiras <strong>do</strong> sistema-mun<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> globalmente homogéneas.<br />

66

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!