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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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Vários críticos explicaram a a<strong>do</strong>ção por parte de Mbembe da representação da<br />

«poscolónia» como lugar de violência e de morte devi<strong>do</strong> a um pessimismo radical<br />

relativamente ao esta<strong>do</strong> da «poscolónia», o que explica a sua recuperação pelos pensa<strong>do</strong>res<br />

contemporâneos <strong>do</strong> afro-pessimismo (Smith). Coquery-Vidrovitch diz, por exemplo, que a<br />

tonalidade geral <strong>do</strong> ensaio é a <strong>do</strong> desespero e não hesita em falar de niilismo a seu<br />

propósito (2001). Essa é também a opinião de Karlström:<br />

This diagnosis is more than an expression of realistic despondency in the face of<br />

disheartening post<strong>colonial</strong> trajectories; it reveals a political pessimism so radical as<br />

to border on existential nihilism. (Karlström, 2003: 60)<br />

No que tem a ver com o segun<strong>do</strong> ponto (o projeto de inovar tanto na meto<strong>do</strong>logia<br />

como na forma), Mbembe começou por defender a necessidade de uma outra abordagem,<br />

mais aberta a saberes diferentes, menos ancorada na epistemologia ocidental. No entanto,<br />

uma análise pormenorizada das fontes assim como <strong>do</strong>s autores por ele cita<strong>do</strong>s remete<br />

grande parte <strong>do</strong>s ensaios para a ciência política e a filosofia ocidentais. 93 A contradição<br />

surge ainda quan<strong>do</strong> o autor rejeita categoricamente alguns <strong>do</strong>s conceitos centrais das<br />

teorias pós-coloniais e pós-estruturalistas (hibridez, fluidez, negociação…) por<br />

alegadamente reduzirem o fenómeno <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> a meras representações e discursos e<br />

esquecerem assim as práticas, enquanto a sua meto<strong>do</strong>logia evidencia um recurso quase<br />

exclusivo às ditas representações (artigos de jornais, obras literárias, etc.). Trata-se de uma<br />

rejeição tanto mais estranha se tivermos em conta que os seus artigos teóricos (2006 b ,<br />

2007 a ) contemporâneos à segunda edição evidenciam a recuperação e a celebração <strong>do</strong>s<br />

conceitos em questão.<br />

Relativamente ao registo de língua, o autor defendia que o seu projeto também<br />

tinha uma vertente estética, ou seja, tratava-se de descrever a «poscolónia» numa sintaxe<br />

perturbada, dan<strong>do</strong> a entender que algo <strong>do</strong> desregulamento <strong>do</strong> referente tinha de passar na<br />

língua («dynamiter» e «travail de démolition» da língua francesa são duas expressões<br />

significativas desta vertente <strong>do</strong> projeto. Mbembe, 2005: XVII). Perante o la<strong>do</strong> muitas vezes<br />

absur<strong>do</strong> <strong>do</strong>s discursos ti<strong>do</strong>s sobre o continente, considerava inevitável um questionamento<br />

sobre a estrutura profunda <strong>do</strong> sistema linguístico encarrega<strong>do</strong> de expressar a imaginação<br />

política em África.<br />

93 Assim, os pensa<strong>do</strong>res africanos que têm realmente tenta<strong>do</strong> introduzir nas ciências sociais e humanas outros<br />

saberes e outras conceções <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> ocupam um espaço reduzi<strong>do</strong> na obra. Hountondji é cita<strong>do</strong> uma vez,<br />

Mudimbe quatro, ou seja, menos <strong>do</strong> que Bakhtine (6 vezes), Habermas (5) ou ainda Heidegger (8).<br />

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