24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Como o sabemos, o trágico tem também a ver com a questão <strong>do</strong> saber por parte<br />

das personagens: apesar das advertências, a personagem trágica não sabe que está a tomar a<br />

decisão errada. Só se torna trágica aos nossos olhos, para nós que, no eixo <strong>do</strong> saber,<br />

acabamos não só por saber mais <strong>do</strong> que ela mas por antecipar a sua provável queda.<br />

Na sintaxe trágica, alguns momentos de remissão temporária, o que corresponde<br />

igualmente a um aliviar da tensão, ajudam a entender que existiam outras vias, que a<br />

alternativa significa a existência de um outro termo, uma possível saída <strong>do</strong> desenrolar<br />

trágico. No caso desta peça de Tansi, é o que acontece na quinta parte (La rencontre), mais<br />

curta <strong>do</strong> que as outras, no decorrer da qual Mayam e Nubigoa trocam argumentos. A<br />

Mayam que quer restabelecer a soberania <strong>do</strong> país («Les coups, tous les coups sont pour<br />

nous. Non. Moi je veux changer la formule» (5. La rencontre), o potenta<strong>do</strong> contrapõe-lhe<br />

que não é possível e que a intervenção estrangeira é inevitável («Il n’y a pas de souveraineté<br />

sans moyens. Et quand ce sont les autres qui ont les moyens… il faut obéir <strong>do</strong>ucement<br />

pour ne pas leur <strong>do</strong>nner la démangeaison de se fâcher» 5. La rencontre). Este encontro é<br />

revela<strong>do</strong>r das diversas tensões que atravessam o Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>: a tensão político-<br />

económica entre um centro (a capital) e a periferia (as regiões), a luta pelos recursos<br />

naturais, os que justamente garantem o acesso ao Esta<strong>do</strong>, a questão da soberania no<br />

contexto de outra tensão entre outros centros (os <strong>do</strong> Norte, que desejam apropriar-se <strong>do</strong>s<br />

mesmos recursos) e outras periferias (as <strong>do</strong> Sul que lutam – Mayam – ou não – Nubigoa –<br />

contra as pretensões <strong>do</strong> Norte).<br />

A este momento-chave tanto na sintaxe trágica (o momento de remissão), como na<br />

fábula (a seguir rebenta a guerra civil), segue-se outro, recorrente nas tragédias, que<br />

corresponde à superação da parte sapiens pela parte demens da personagem trágica. Na oitava<br />

parte (8. Le même soir, ou seja o Quinto), Mayam manda matar o louco. O louco relembra o<br />

quão essencial fora o seu papel na luta:<br />

Je suis Zagoubinoa – ce nid de chair dans la pierre des haines. Homme, ombre,<br />

ombre d’homme, homme-chose, chose humaine… j’ai diffusé l’espérance à des prix<br />

battant toute imagination…J’ai fonctionné à titre d’espoir, nuage-homme, homme<br />

nuageux, j’ai charrié la sève de la réconciliation. (8. Le même soir)<br />

Mayam admite que a voz <strong>do</strong> louco o irrita, o atormenta: «Ce fou me monte dans les<br />

nerfs. Il me met des tremblements; sa voix m’immerge la tête ainsi que son odeur froide»<br />

(8.Le même soir). Trata-se de facto de uma espécie de consciência de Mayam e, por causa<br />

276

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!