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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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seguida atribuir a responsabilidade principal ao próprio «descoloniza<strong>do</strong>». Fundamenta a sua<br />

observação numa espécie de traço ou de tendência inerente à psicologia <strong>do</strong> sujeito local:<br />

Chez nous, on ne naît pas despote, on le devient. En chaque décolonisé sommeille<br />

un petit despote, et le chef n’est que l’image de cet amour despotique diffus dans<br />

toute la population. […] Chaque décolonisé qui croit détester le pouvoir en fait<br />

l’i<strong>do</strong>lâtre, car il y trouve une protection primitive. Il aime le pouvoir non pour les<br />

sacrifices qu’il réclame, mais pour les avantages qu’il procure, et les opposants qui le<br />

contestent, en réalité le convoitent avec l’espoir lancinant d’obtenir à leur tour ces<br />

mêmes avantages. (Béji, 2008: 67-68)<br />

Esta tendência para pintar em traços largos com recurso à generalização e à<br />

metonímia desemboca, por um la<strong>do</strong>, num inevitável prejuízo para o retrata<strong>do</strong> e, por outro<br />

la<strong>do</strong>, na contradição. É disso exemplo Béji, que, antes de atribuir o despotismo a uma<br />

disposição <strong>do</strong> «descoloniza<strong>do</strong>» para tal regime, insistira nas difíceis condições de vida da<br />

maior parte <strong>do</strong>s descoloniza<strong>do</strong>s e no desinteresse destes pelos assuntos políticos por causa<br />

da fome e das crises económicas, ou seja, o próprio autor afirmara a importância <strong>do</strong><br />

contexto social para explicar a suposta falta de interesse pela política por parte <strong>do</strong><br />

«descoloniza<strong>do</strong>» (mais uma vez, a utilização <strong>do</strong> artigo defini<strong>do</strong> dá a entender que se trata<br />

<strong>do</strong>s descoloniza<strong>do</strong>s no seu conjunto). Porém, logo em seguida, e sem transição discursiva,<br />

defende o oposto, a saber que no fun<strong>do</strong>, no seu ser íntimo, o descoloniza<strong>do</strong> se interessa<br />

pela política por causa <strong>do</strong> poder. Esta contradição entre a responsabilidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<br />

<strong>colonial</strong> e a <strong>do</strong> sujeito atravessa o ensaio, estruturan<strong>do</strong>-o. É no sexto capítulo (L’envers du<br />

décor) que a contradição se revela mais claramente: o descoloniza<strong>do</strong> gostaria <strong>do</strong> aparato <strong>do</strong><br />

poder, mas não faria nada para melhorar o seu dia-a-dia. Viveria num contexto de sujidade<br />

e descalabro, mas não se esforçaria para remediar estes males, comentário que ganha<br />

alguma ironia no recente contexto das revoluções tunisina e egípcia:<br />

Nous aimons les médailles et les rubans officiels, les haies d’honneur, les<br />

cérémonies, la pompe, le lustre, les acclamations, les cortèges, mais nous déversons<br />

nos poubelles à ciel ouvert dans nos rues, et ne daignons pas réparer nos réverbères<br />

brisés et nos trottoirs défoncés. (Béji, 2004: 74)<br />

Admite a seguir que a administração, ou seja, o Esta<strong>do</strong>, talvez seja responsável por<br />

este caos, mas tal é dito en passant antes de continuar a perseguir o «descoloniza<strong>do</strong>» com<br />

desprezo. Este acumula os clichés sempre já disponíveis no Texto:<br />

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