24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

L’apothéose de l’indépendance se transforme en malédiction de l’indépendance. La<br />

puissance <strong>colonial</strong>e par des moyens énormes de coercition condamne à la<br />

régression la jeune nation. (Fanon, 2002: 95) 113<br />

Do ponto de vista económico, notava que, nos países que aceitaram o novo<br />

estatuto neo<strong>colonial</strong>, os circuitos, as indústrias, os produtos em circulação, continuavam<br />

praticamente idênticos ao que tinham si<strong>do</strong> durante o perío<strong>do</strong> <strong>colonial</strong>, o que traduz para o<br />

autor que esses países permaneciam presos na rede tecida pelo ex-coloniza<strong>do</strong>r (Fanon,<br />

2002: 97).<br />

O que aqui se torna flagrante é a discrepância entre as aparências de autonomia<br />

política – o Esta<strong>do</strong> apresenta-se como sen<strong>do</strong> independente, exibe os seus símbolos de<br />

soberania –, em suma, o que se representa no palco <strong>do</strong> poder, e a realidade da dependência<br />

económica, esta organizada nos basti<strong>do</strong>res. É exatamente esta dicotomia entre o visível<br />

(«the outward trappings») e o escondi<strong>do</strong> («directed from outside») que foi descrita pelo<br />

primeiro Presidente <strong>do</strong> Ghana:<br />

The essence of neo<strong>colonial</strong>ism is that the State which is subject to it is, in theory,<br />

independent and has all the outward trappings of international sovereignty. In<br />

reality its economic system and thus its political policy is directed from outside.<br />

(Nkrumah, 2004: IX)<br />

Para Nkrumah, o neo<strong>colonial</strong>ismo visava sobretu<strong>do</strong> impedir qualquer possibilidade<br />

de desenvolvimento económico viável a nível continental. Daí, sem dúvida, a tendência,<br />

muito clara no caso francês, para impedir a formação de qualquer tipo de federação de<br />

Esta<strong>do</strong>s:<br />

Neo-<strong>colonial</strong>ism is based upon the principle of breaking up former large united<br />

<strong>colonial</strong> territories into a number of small non-viable States which are incapable of<br />

independent development and must rely upon the former imperial power for<br />

defense and even internal security. Their economic and financial systems are linked,<br />

as in <strong>colonial</strong> days, with those of the former <strong>colonial</strong> ruler. (Nkrumah, 2004: XIII)<br />

113 Kourouma, em Les Soleils des indépendances (1970), foi um <strong>do</strong>s autores que conseguiu «traduzir» para a<br />

literatura o que a transição entre o perío<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> e o perío<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> significou para segmentos<br />

importantes da população. De facto, Fama representa bem a frustração de quem aspirava a um estatuto<br />

socioeconómico diferente com a independência. Em vários momentos, o narra<strong>do</strong>r atribui a degradação social<br />

(e até física) de Fama às diferentes formas de coerção exercidas por ambos os regimes. Assim, quan<strong>do</strong> Fama<br />

presta homenagem aos antepassa<strong>do</strong>s na sua aldeia natal, eis como é interpretada a sua desclassificação social:<br />

«Cent fois piteux Fama devait leur paraître! Leur unique descendant mâle tondu, séché et déshabillé par la<br />

colonisation et les Indépendances» (Kourouma, 1995: 116).<br />

128

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!