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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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ou seja «la vie, le temps, la paix». Há algo indubitavelmente trágico nesta escolha entre os<br />

<strong>do</strong>is termos da alternativa, pois o recetor sabe que se existir a possibilidade de o herói<br />

trágico escolher o polo negativo, o que o votará para a desgraça, então assim será. Aliás, se<br />

a alternativa existir para Mayam, ela só será formal, pois ao reivindicar o seu estatuto de<br />

ser-para-a-desgraça, coloca-se imediatamente <strong>do</strong> la<strong>do</strong> da queda: «C’est vrai, on est tragiques.<br />

… Comme des rats exactement, nous avons été encerclés par l’Histoire» (2. Le même soir).<br />

Há de facto algo trágico, tanto para a personagem como para o recetor, naquela luta<br />

incessante pela conquista <strong>do</strong> poder. Ainda nesta segunda parte, Mayam observa o<br />

movimento <strong>do</strong> mar e, aos poucos, nasce uma homologia entre este e a conquista incessante<br />

para o poder:<br />

(Il va à la fenêtre et se met à contempler la mer): Là, à nos pieds, la passion… le combat –<br />

éternel – sans relâche et sans pitié…la pierre contre les flots, le sel contre le caillou.<br />

Cette guerre sera notre guerre […]. (2. Le même soir)<br />

Porém, como vimos no capítulo dedica<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, existe no fora-<br />

de-palco outra força que pesa na vida <strong>do</strong>s sujeitos e que explica em grande parte a<br />

permanência de certas relações desiguais de poder: as ex-potências coloniais que tentam<br />

manter o Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> na sua órbita. Em Le trou, a Bélgica é apontada como a<br />

macro-estrutura que <strong>do</strong>mina, organiza e desorganiza o Esta<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> espaço virtual.<br />

Eis como Mayam a denuncia como força trágica: «Ce n’est pas le progrès que nous<br />

combattons, mais le coup d’état belge en plein Kabora… Le fait qu’on nous impose de<br />

l’oxygène cousu en Belgique» (2. Le même soir).<br />

Mayam percebeu, tal como May Britt e Luen<strong>do</strong>, que é no poder das representações,<br />

das palavras (a «saliva» no trecho seguinte) que tem origem parte da desgraça coletiva, mas<br />

é igualmente a este nível que ela também se combate: «Ces ‘grands’ gouvernent avec la<br />

salive; c’est tragique oui ou non? Nous voulons <strong>do</strong>nc qu’ils périssent par la salive» (2. Le<br />

même soir). Tansi associa de facto a Bélgica a uma força trágica, mas antevê a possibilidade<br />

<strong>do</strong> fim desta existência trágica. Acaba a sua tirada consciente da existência trágica <strong>do</strong> sujeito<br />

assim <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>, mas desejoso de se libertar desta força: «Nous ne voulons pas exister sur<br />

commande – ni encore moins par correspondance – parce que cette marque d’existence est<br />

tragique» (2. Le même soir).<br />

Contu<strong>do</strong>, se Mayam parece ter consciência de que grande parte <strong>do</strong> sofrimento e <strong>do</strong><br />

mal têm a sua origem na macro-estrutura em questão, ele próprio é uma personagem<br />

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