24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

disso, é uma voz que o persegue e perscruta. Naquele momento preciso, Mayam deixa-se<br />

levar pela impulsão, pela emoção, o que não augura nada de bom para o governo <strong>do</strong> país.<br />

Mesmo se a última parte (9.Le premier matin) mostra Mayam e Ramien reconcilia<strong>do</strong>s, a<br />

execução <strong>do</strong> louco deixa algumas dúvidas: quem servirá então de consciência para o bem<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>? Fora aliás Zagoubinoa que desempenhara um papel fulcral na reconciliação:<br />

«J’ai sillonné le Kabora du nord au sud, de l’est à l’ouest. La réconciliation, c’est moi» (8.Le<br />

même soir), afirma ele pouco antes de ser abati<strong>do</strong>.<br />

VI. 6. LA PARENTHÈSE DE SANG: O CORPO DESMEMBRADO DA<br />

PERSONAGEM TRÁGICA E O TRÁGICO ONTOLÓGICO<br />

A personagem <strong>do</strong> louco também aparece noutra peça contemporânea de Le trou, La<br />

Parenthèse de sang, editada conjuntamente com Je, soussigné cardiaque (2002). 225 Estas duas<br />

peças revelam claramente as marcas <strong>do</strong> trágico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, com várias<br />

personagens subordinadas ao arbitrário das forças de segurança ou de funcionários<br />

corruptos. Quaisquer que sejam os seus esforços, não conseguem evitar o pior pela razão<br />

de que não possuem controlo sobre o arbitrário em questão. Como veremos, mesmo<br />

quan<strong>do</strong> julgam possível uma revolta contra a macroestrutura, à semelhança <strong>do</strong> professor<br />

Mallot Bayenda em Je, soussigné cardiaque, esta fracassa por causa da força <strong>do</strong> adversário.<br />

A fábula de La Parenthèse de sang resume-se em poucas palavras: a viúva, as filhas e o<br />

sobrinho estão de luto pela morte de Libertashio, aparentemente um combatente contra a<br />

opressão. Acompanhada por um louco, a família conversa a propósito <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> país<br />

quan<strong>do</strong> um grupo de solda<strong>do</strong>s invade a propriedade de Libertashio. Estes não acreditam<br />

que o opositor tenha morri<strong>do</strong> e exigem a sua rendição. Ameaçam a família, prendem-na,<br />

torturam-na mas ao mesmo tempo não conseguem entender-se e matam-se entre eles a fim<br />

de tomar a liderança <strong>do</strong> grupo. No momento em que um <strong>do</strong>s solda<strong>do</strong>s se prepara para<br />

executar a família, um estafeta chega da capital para anunciar que, por causa de um golpe<br />

de Esta<strong>do</strong>, as execuções foram suspensas. Porém, o solda<strong>do</strong> recusa a ordem e abate o<br />

grupo antes de marchar contra a capital.<br />

225 Premiada pelo 9º Concours Théâtral Interafricain em 1978, La Parenthèse de sang foi editada em Paris pela<br />

primeira vez em 1981 (Hatier), reeditada em 2002 (Hatier international). Premiada pelo 7º Concours Théâtral<br />

Interafricain em 1976, Je, soussigné cardiaque sempre acompanhou a primeira (1981, 2002).<br />

277

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!