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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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de um membro da neo-burguesia de que falava Domingos de Sousa na última citação. A<br />

descrição <strong>do</strong>s que aproveitaram o processo de nacionalização para alcançarem posições<br />

estratégicas, que lhes permitiam enriquecer rapidamente, anuncia de facto o percurso de<br />

Vladimiro Caposso em Preda<strong>do</strong>res.<br />

VII. 3. PREDADORES OU A POSSIBILIDADE DO DESFECHO DA<br />

CIRCULARIDADE TRÁGICA<br />

Como em A gloriosa Família, Jaime Bunda, agente secreto e Jaime Bunda e a morte <strong>do</strong><br />

americano, Preda<strong>do</strong>res articula em vários momentos o Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> com a sua matriz, o<br />

Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong>, nomeadamente na fase de transição entre ambos. À semelhança <strong>do</strong> que<br />

acontece com Baltazar Van Dum e Jaime Bunda, uma personagem colocada no primeiro<br />

plano agrega em si as principais características da neo-burguesia desejosa de acumular<br />

capital social e capital financeiro. Como referi há pouco, Vladimiro Caposso talvez tenha a<br />

sua origem na descrição que Julião Domingos de Sousa fez desta classe social em ascensão.<br />

Em vinte capítulos, coloca<strong>do</strong>s numa sucessão não cronológica, assiste-se ao<br />

nascimento e à provável queda <strong>do</strong> burguês pós-<strong>colonial</strong>. Se, em A Gloriosa Família, Pepetela<br />

explorava a genealogia da dita burguesia pós-<strong>colonial</strong> num passa<strong>do</strong> remoto, nesta<br />

ocorrência autopsia-a no tempo recente (1974-2004) e aponta como momento chave a<br />

passagem de uma ordem à outra.<br />

O quarto capítulo, «Novembro de 1974», estrategicamente coloca<strong>do</strong> depois de três<br />

capítulos situa<strong>do</strong>s em Setembro de 1992, que deram a conhecer os aspetos mais negativos<br />

da personagem principal, pode ser visto como o foco narrativo a partir <strong>do</strong> qual se revela a<br />

trajetória <strong>do</strong> protagonista. Descreve um jovem Caposso desemprega<strong>do</strong>, ingénuo, originário<br />

da província, que percorria com um pai enfermeiro não oficial. Ao contrário <strong>do</strong> que se<br />

verifica num romance de formação clássico, aqui, quan<strong>do</strong> o jovem ingénuo (figura<br />

incontornável deste tipo de narrativa) surge, o recetor já sabe através <strong>do</strong>s três primeiros<br />

capítulos o resulta<strong>do</strong> da sua educação, o que coloca necessariamente o jovem Caposso a<br />

uma certa distância crítica. Aos poucos, este capítulo torna Preda<strong>do</strong>res num Bildungsroman às<br />

avessas, com um Caposso aprendiz, que, porém, não serve de modelo ou então apenas de<br />

contra-modelo. Se para o protagonista «A grande cidade era uma verdadeira escola, a cada<br />

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