24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

The African-descended adaptations represent an important dynamic of<br />

appropriation, laying claim to a tradition which thereby ceases to be exclusively<br />

European, if indeed it ever was. (Goff e Simpson, 2007: 48)<br />

Porém, além disso, da mesma maneira que Césaire relê e reinterpreta Shakespeare<br />

em Une Tempête, a maior parte <strong>do</strong>s dramaturgos africanos que reescrevem os clássicos<br />

renovam em profundidade as suas leituras canónicas. Falar de tragédia em África supõe<br />

para alguns críticos uma deslocação epistemológica; a tragédia é de facto um produto local,<br />

que só faz senti<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> seu lugar matricial se reinterpreta<strong>do</strong>, reescrito, ou seja, alvo de<br />

uma operação de hermenêutica fora <strong>do</strong> círculo hermenêutico hegemónico (Decreus, 2007).<br />

É esta tragédia metamorfoseada que serviu para apontar as contradições e<br />

violências tanto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> como <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, Antígona<br />

transforman<strong>do</strong>-se nesta perspetiva num símbolo de resistência a ambas as macro-<br />

estruturas. Em grande parte, é isto que significa de facto, como o sublinhou Timothy Reiss,<br />

escrever tragédias fora <strong>do</strong> espaço que viu nascer esta prática:<br />

At issue are uses of what is called tragedy in places outside the cultural tradition to<br />

which tragedy as a genre is historically tied. These uses make tragedy, as a dramatic<br />

genre (setting aside the word’s spread to wider emotional, ontological, and social<br />

feelings, practices, and concepts), so powerful an aesthetics and political tool for<br />

developing and renewing embattled cultures. (Reiss, 2005: 507)<br />

Numa leitura de Tegonni: an african Antigone (Femi Osofisan), Barbara Goff mostrou<br />

que a própria operação de interpretação <strong>do</strong> texto de Sófocles faz parte da fábula da peça de<br />

Osofisan. Aliás, a personagem de Antígona aparece na peça como metateatral, comentan<strong>do</strong><br />

a ação com distanciamento, queren<strong>do</strong> certificar-se de que se vai respeitar a estrutura <strong>do</strong><br />

original (Goff, 2007 : 45). Segun<strong>do</strong> Goff, Osofisan, ao não se limitar a colocar a tensão<br />

entre normas só de um la<strong>do</strong>, aprofunda a complexidade da sua peça:<br />

Although the play is shaped by the obvious overriding conflict between the Yoruba<br />

and the British, there are also several ways in which the African society in the play<br />

is shown to be divided against itself. (Goff, 2007: 46)<br />

Na peça de Osofisan, os solda<strong>do</strong>s africanos que trabalham para o coloniza<strong>do</strong>r<br />

acabam por tomar consciência <strong>do</strong> seu papel na empresa <strong>colonial</strong>. É a ocasião para Osofisan<br />

estabelecer um paralelismo entre a atuação das forças de segurança durante e após o<br />

223

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!