24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Domingos, país evoca<strong>do</strong> com recurso ao estereótipo (vistas aéreas de praias, <strong>do</strong> mar<br />

turquesa): «bien connue des tours operators, première destination touristique des Caraïbes».<br />

Acrescenta: «Les vacances y sont <strong>do</strong>uces et le climat tropical». Como tentarei demonstrar<br />

na análise de Smith, Béji e Memmi, o Texto precisa, em muitas das suas ocorrências, de um<br />

compara<strong>do</strong> e de um termo de comparação, de um polo positivo ao qual contrapor o polo<br />

negativo da comparação (São Domingos vs Haiti aqui, Japão vs África para Smith, Ocidente<br />

vs África para Béji e Memmi). Porém, é necessário ter em conta que a operação de redução<br />

da complexidade antecedeu a figura da comparação, pois o primeiro elemento é também o<br />

resulta<strong>do</strong> de um processo de seleção/ocultação (São Domingos é produzi<strong>do</strong> antes de mais<br />

como um lugar paradisíaco).<br />

O segun<strong>do</strong> momento é o da oposição. A voz off aborda o Haiti com uma locução<br />

adverbial (En revanche – Em contrapartida) que induz o deslize espontâneo <strong>do</strong> telespecta<strong>do</strong>r<br />

de um polo para o outro: «En revanche, le voisin haïtien est l’un des pays les plus pauvres de<br />

la planète», comentário ilustra<strong>do</strong> por um plano de grande conjunto fixo de uma favela, ou<br />

pelo menos <strong>do</strong> que o senso comum ocidental associa a uma favela. Seguem-se da<strong>do</strong>s sobre<br />

a pobreza no país (76% vive com menos de 1’30€ por dia, 2 milhões de pessoas<br />

«amontoam-se» - sic - em Port-au-Prince) com planos de anónimos que, pela associação<br />

imagem/comentário, devem funcionar como ilustração da situação social descrita (assim,<br />

temos um plano fixo de uma mulher e de uma criança a vender comida à beira de uma<br />

estrada com o que parece ser um esgoto a céu aberto em pano de fun<strong>do</strong>). Ter-se-á nota<strong>do</strong><br />

desde já que, à semelhança <strong>do</strong> Texto escrito, o noticiário não cita as suas fontes, afirma sem<br />

dar a possibilidade de confirmar ou rebater as suas asserções por parte <strong>do</strong> recetor.<br />

À comparação/oposição geográfica e social segue-se outra que permite a<br />

articulação com outra figura, a da omissão, emblematicamente expressa em «Et pourtant,<br />

tout avait bien commencé». O país proclamara a sua independência em 1804, tornan<strong>do</strong>-se a<br />

primeira república negra <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, adiciona o comentário sempre em off, com a aparição<br />

de um outro mapa, histórico desta vez, e de gravuras de casas locais, de personagens,<br />

acontecimentos. Estas servem ao mesmo tempo de marca<strong>do</strong>r temporal (estamos num<br />

passa<strong>do</strong> longínquo) e de ilustração muda <strong>do</strong> comentário, pois nenhuma foi objeto de<br />

introdução e ainda menos de análise. O que vemos nas gravuras? Saberão os espeta<strong>do</strong>res<br />

que a personagem filmada em plano aproxima<strong>do</strong> ao peito é Toussaint-Louverture? Quem<br />

são os solda<strong>do</strong>s brancos que afrontam os revolta<strong>do</strong>s negros? Porquê um zoom ótico numa<br />

79

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!