24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

narrativa policial. De facto, esta circula no Atlântico por rotas às vezes insuspeitas. Assim,<br />

Pim Higginson (The Noir Atlantic, 2011) mostrou a influência <strong>do</strong> escritor afro-americano de<br />

romances policiais Chester Himes em muitos escritores africanos via as suas traduções<br />

francesas na conhecida Série Noire (Gallimard). 291 Roger Dorsinville constitui talvez um<br />

paradigma possível desta circulação atlântica, pois, de origem haitiana, viveu vários anos na<br />

Libéria e no Senegal. Em várias narrativas utiliza a estrutura da narrativa policial para<br />

vasculhar as tensões e as linhas de fratura da sociedade local. 292<br />

Alguns investiga<strong>do</strong>res começaram a explorar o continente policial africano numa<br />

perspetiva comparada 293 . Ferreira-Meyers, por exemplo, interpreta textos de Pepetela (os<br />

<strong>do</strong>is Bunda), <strong>do</strong> argelino Yasmina Khadra e <strong>do</strong> escocês Alexander Mc Call Smith (cujos<br />

romances se desenrolam no Botswana). A autora evidencia a importância da crítica social<br />

nos romances analisa<strong>do</strong>s (Ferreira-Meyers, 2009: 42) mas na sua tentativa de comparar o<br />

comparável, de agregar a to<strong>do</strong> o custo sem ter em conta as dissonâncias, acaba por não<br />

valorizar as inovações de um Pepetela. Assim, afirma sem nuances a propósito <strong>do</strong>s três<br />

romancistas que seguem de maneira geral, sem inovar, o modelo <strong>do</strong> romance negro<br />

(Ferreira-Meyers, 2009: 55). 294<br />

291 Exemplo também desta circulação oceânica, o romance negro norte-americano constitui um vasto<br />

intertexto para o qual Jaime Bunda de Pepetela remete regularmente.<br />

292 Em Un homme en trois morceaux (1975), por exemplo, o investiga<strong>do</strong>r, Lewis Cassan, filho de pesca<strong>do</strong>res<br />

locais, sofreu na infância o <strong>do</strong>mínio das elites coloniais negras oriundas <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. O romance é<br />

assim percorri<strong>do</strong> pelas tensões entre os <strong>do</strong>is grupos, o constituí<strong>do</strong> pelos descendentes de escravos liberta<strong>do</strong>s<br />

(«Americos» no romance), que se comportam como coloniza<strong>do</strong>res, e o outro constituí<strong>do</strong> pelas diversas<br />

comunidades locais («Natives» no romance).<br />

293 Ferreira-Meyers, Karen (2009), «Maigret en Afrique: le genre policier dans la littérature africaine<br />

contemporaine», in Bernard De Meyer & Neil ten Kortenaar The Changing Face of African Literature / Les<br />

nouveaux visages de la littérature africaine. Amsterdam & New York: Rodapi: 43-60; Moudileno, Lydie (2002), «Le<br />

droit d’exister. Trafic et nausée post<strong>colonial</strong>e», CAHIERS D'ÉTUDES AFRICAINES, 165, 83-98;<br />

Naudillon, Françoise (2006), «La poésie du roman policier africain francophone», disponível em<br />

http://www.ulaval.ca/afi/colloques/colloque2006/actes2006/PDF/III5b%20Francoise<br />

%20NAUDILLON.<strong>pdf</strong> Consulta<strong>do</strong> a 12 de Fevereiro de 2009; Pearson, Nels, Singer, Marc (org.) (2009),<br />

Detective Fiction in a Post<strong>colonial</strong> and Transnational World. Farnham/Burlington: Ashgate. Por sua vez, Marc Lits<br />

estuda a maneira como o género representou o Ruanda antes e depois <strong>do</strong> genocídio tanto em romances <strong>do</strong><br />

norte como <strong>do</strong> sul em (2005) «Un polar nommé Rwanda», Europolar, 2, Juillet/août/septembre, disponível em<br />

http://www.europolar.eu/europolarv1/2_<strong>do</strong>ssiers_rwanda_lits_fr.htm Consultada a 12 de Fevereiro de<br />

2009.<br />

294 Haverá igualmente outras pistas de pesquisa como a de reler obras clássicas oriundas <strong>do</strong> continente<br />

africano para encontrar nelas traços da narrativa policial. Eis o que um crítico refere, por exemplo, a<br />

propósito de Petals of Blood de Ngugi wa Thiong’o: «Among its more modest accomplishments, Petals of Blood<br />

is an African detective novel.» (Nicholls, Bren<strong>do</strong>n (2010), Ngugi wa Thiong’o, Gender, and the Ethics of Post<strong>colonial</strong><br />

Reading. Farnham/Burlington: Ashgate, 119). Por fim, ao exemplo de Pepetela, conviria estudar um elemento<br />

recorrente na prática da narrativa policial: a sua presença em autores que são ti<strong>do</strong>s pelas instâncias de<br />

legitimação como escritores de produção restrita (e.g. Raphael Confiant, Le meutre du Samedi-Gloria, 1997;<br />

Mário Vargas Llosa, Quién mató a Palomino Molero? 1986).<br />

363

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!