24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

exemplo, em várias personagens de Sony Labou Tansi uma reflexão próxima das que me<br />

ocuparão aqui, nomeadamente no que tem a ver com a conceção da existência como<br />

essencialmente trágica.<br />

Escola apontou para uma das aporias <strong>do</strong> pensamento filosófico <strong>do</strong> trágico que se<br />

poderia resumir <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong>: é ao mesmo tempo tautologia – a tragédia seria o mo<strong>do</strong><br />

de predileção <strong>do</strong> pensamento trágico assim como o trágico se teria incarna<strong>do</strong> na tragédia –<br />

e anacronismo – o trágico filosófico, que emerge em finais <strong>do</strong> século XVIII, é utiliza<strong>do</strong><br />

para ler as tragédias gregas com conceitos que lhe eram alheios (Escola, 2002: 13-14;<br />

Escola, 2010: 9-24). No mesmo lugar, Escola notava ainda que parte <strong>do</strong>s filósofos<br />

empenha<strong>do</strong>s em pensar as determinações <strong>do</strong> trágico, um trágico como fenómeno inerente<br />

à nossa condição, não consegue evitar voltar às tragédias. Tu<strong>do</strong> acontece como se a<br />

filosofia <strong>do</strong>s séculos XIX e XX tivesse encontra<strong>do</strong> num certo teatro a expressão<br />

privilegiada de um trágico fenomenal alheio ao trágico como “efeito de sintaxe”, ou, para<br />

dizê-lo por outras palavras, um trágico como perceção e compreensão <strong>do</strong> nosso lugar num<br />

mun<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> afasta<strong>do</strong> <strong>do</strong> trágico como foi pensa<strong>do</strong> por Aristóteles.<br />

Não é pois por acaso que a tragédia e o trágico foram contempla<strong>do</strong>s pelo<br />

Dictionnaire des concepts philosophiques (Blay, 2007), dicionário de referência no mun<strong>do</strong> de<br />

língua francesa. Na sua definição, Jean-Marie Thomasseau remete a tragédia para uma das<br />

suas ocorrências, a tragédia grega, postulan<strong>do</strong> assim que a parte vale pelo to<strong>do</strong>. Esta<br />

maneira metonímica de entender uma prática literária é aliás muito corrente, como é<br />

recorrente também a alusão às origens incertas da tragédia e ao lugar de Aristóteles como<br />

primeiro hermeneuta:<br />

Pièce de théâtre, née probablement du dithyrambe, représentant l’infortune du<br />

héros de la mythologie ou de l’histoire, <strong>do</strong>nt le spectacle éveille, selon Aristote, la<br />

terreur et la pitié. Elle désigne aussi le genre théâtral auquel appartiennent ces pièces<br />

et, par extension, un enchaînement d’événements terribles à l’issue fatale.<br />

(Thomasseau)<br />

Nota a seguir que, para a filosofia alemã <strong>do</strong> século XIX, a tragédia grega parece de<br />

facto ter servi<strong>do</strong> de suporte a uma reflexão sobre o que o trágico significaria ou poderia vir<br />

a significar. Tal implicaria em última análise que Sófocles e Ésquilo - Eurípides nunca<br />

aparece como referência para a reflexão filosófica – teriam expressa<strong>do</strong> num contexto<br />

168

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!