24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CAPÍTULO III - O ESTADO PÓS-COLONIAL<br />

III.1. «ET POURTANT TOUT AVAIT SI BIEN COMMENCÉ…»<br />

PERMANÊNCIA DO DISCURSO HEGEMÓNICO NA<br />

REPRESENTAÇÃO DO ESTADO PÓS-COLONIAL<br />

Os textos analisa<strong>do</strong>s nesta dissertação inserem as suas diegeses num contexto<br />

claramente reconhecível, o <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> independente pós-<strong>colonial</strong>. Tanto as peças<br />

congolesas como os romances angolanos, de grande produção (as narrativas policiais) ou<br />

de produção restrita (as narrativas tidas pelas instâncias de legitimação como sen<strong>do</strong><br />

realmente literatura), descrevem personagens e situações enquadradas e <strong>do</strong>minadas em<br />

diferentes graus pelo Esta<strong>do</strong> em questão. Estas representações literárias apontam para uma<br />

estrutura político-social em que a violência surge como uma ferramenta de opressão contra<br />

uma maioria desprovida e em prol de uma minoria privilegiada. Não preten<strong>do</strong> neste<br />

capítulo oferecer uma definição jurídica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, ou uma descrição<br />

pormenorizada de uma das suas atualizações (República Democrática <strong>do</strong> Congo, Angola...),<br />

mas traçar um quadro, delinear alguns <strong>do</strong>s seus contornos, que me permitirão enriquecer a<br />

leitura das obras <strong>do</strong> meu corpus. Encaro aqui o Esta<strong>do</strong> como um fenómeno situa<strong>do</strong> algures<br />

entre entidade abstrata e conjunto de atualizações (forças de segurança, regras, leis,<br />

ministros, formulários…) que o constituem como fenómeno dinâmico (Linhardt e Moreau<br />

De Bellaing, 2005: 269-298).<br />

Será a partir deste quadro aberto que se poderá contemplar cada uma das<br />

atualizações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em questão sem contu<strong>do</strong> as transformar em entidades estritamente<br />

homólogas. De facto, o contexto desempenha um papel fundamental para explicar as<br />

características sui generis de cada Esta<strong>do</strong>: políticas coloniais, tipo de colónia, gestão da<br />

transição entre Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> e Esta<strong>do</strong> independente e depois pós-<strong>colonial</strong>, etc. Assim, o<br />

momento da descolonização explica em parte os contornos de cada Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>.<br />

Desta maneira, a organização <strong>do</strong> sistema neo<strong>colonial</strong> a partir de Paris e de Bruxelas em<br />

1960 (República <strong>do</strong> Congo e República Democrática <strong>do</strong> Congo) era quase impossível em<br />

75

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!