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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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Com estas observações, o que começa lentamente a emergir é o Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong><br />

como matriz <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, mas, mais uma vez, seria redutor ver no segun<strong>do</strong> uma<br />

mera reprodução <strong>do</strong> primeiro. No capítulo «Du commandement», Mbembe recusa a ideia<br />

de acor<strong>do</strong> com a qual o Esta<strong>do</strong> na África subsariana se resumiria a uma estrutura imposta<br />

só pela violência <strong>colonial</strong>: por um la<strong>do</strong>, afirma Mbembe, existiam organizações estatais<br />

antes da chegada <strong>do</strong>s europeus e, por outro, os africanos apropriaram-se <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

consoante modalidades sui generis, nomeadamente nas áreas institucionais, materiais e nos<br />

imaginários (Mbembe, 2005: 65). Admite que, se a «indigenização» <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> variou de<br />

país para país, as «poscolonias» possuiriam um ponto em comum: a cristalização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />

assim como o imaginário que o reforça, «s’est, partout, effectuée sur un mode autoritaire<br />

qui déniait aux individus toute qualité de sujet de droit» (Mbembe, 2005: 68). Seria ainda<br />

redutor defender que o potenta<strong>do</strong> procurou legitimar o seu poder com recurso exclusivo a<br />

um imaginário e a uma engenharia estatal importa<strong>do</strong>s, pois, segun<strong>do</strong> Mbembe, o potenta<strong>do</strong><br />

não hesitava em socorrer-se, quan<strong>do</strong> necessário, de um imaginário assim como de tradições<br />

pré-coloniais, muitas vezes elas próprias resulta<strong>do</strong> de manipulações diversas.<br />

Tu<strong>do</strong> isto parece não divergir substancialmente <strong>do</strong> que um Mamdani ou um<br />

M’Bokolo sustentam nos seus trabalhos, mas é preciso ter em conta outras características<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> para perceber as dificuldades que a maior parte <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s pós-<br />

coloniais encontrou depois das independências. Para dizê-lo noutras palavras, se de facto<br />

houve adaptações institucionais locais e se, para parafrasear Mamdani, houve uma<br />

desracialização das estruturas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, este não conseguiu totalmente<br />

extirpar os vários lega<strong>do</strong>s coloniais.<br />

Se o Texto atribui a responsabilidade <strong>do</strong> suposto falhanço <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong><br />

às características culturais, um exame mais minucioso das razões da «crise» <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> leva<br />

sempre o observa<strong>do</strong>r a voltar ao Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong>. É o que fez Chiadjeu Jamfa (2005),<br />

politólogo camaronês, numa tese de ciência política comparada em que demonstra que<br />

qualquer que seja o contexto (país com recursos naturais, como Angola e a RDC, ou deles<br />

desprovi<strong>do</strong>, como o Ruanda, países homogéneos <strong>do</strong> ponto de vista linguístico e/ou social<br />

ou não), qualquer que seja o coloniza<strong>do</strong>r (Bélgica, França, Portugal), a crise <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<br />

<strong>colonial</strong> teria razões semelhantes.<br />

Consciente da existência <strong>do</strong> Texto, o autor insiste no início na importância de<br />

historicisar a questão da presença <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> sob pena de (re)produzir o estereótipo <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> intrinsecamente incapaz de evoluir, de gerir os seus recursos em prol <strong>do</strong> bem geral,<br />

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