24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

qui par le moyen de la compassion et de la terreur, achève de purger en nous les<br />

passions […].<br />

Tragédie. Se dit aussi d’un événement, d’une histoire, ou même d’une action<br />

funeste, cruelle, sanglante. Les hérésies causent à la fin quelque révolte, quelque<br />

tragédie dans un Etat. Les jalousies des Princes finissent souvent en tragédie. La<br />

fortune joue quelque fois de sanglantes tragédies. 139<br />

Ainda que Furetière dedique mais atenção à prática literária da tragédia, é de notar a<br />

ausência de comentário negativo (<strong>do</strong> tipo «uso impróprio» ou «deriva semântica» …)<br />

relativamente ao uso mais prosaico da mesma palavra. 140 Ao contrário <strong>do</strong> que parecem por<br />

vezes supor alguns comenta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> trágico, o uso contemporâneo das palavras no senso<br />

comum não é o resulta<strong>do</strong> de uma recente derivação ou degradação semântica. Furetière<br />

fixou um esta<strong>do</strong> da língua no Século de Ouro da tragédia francesa (XVII) e atestou assim a<br />

polissemia da palavra já na altura. 141 O dicionário de Furetière revela outro da<strong>do</strong><br />

importante: o substantivo («Le tragique») remetia então exclusivamente para o «Poeta que<br />

compôs Tragédias»; o artigo não contempla o uso filosófico contemporâneo da palavra, ou<br />

seja, o trágico como o definem um Domenach ou um Lourenço. Por outras palavras, falar,<br />

por exemplo, de um trágico em Racine ou Corneille equivale a utilizar categorias filosóficas<br />

forjadas a partir <strong>do</strong>s finais <strong>do</strong> século XVIII para analisar uma prática que lhe era alheia.<br />

A mesma ambivalência encontra-se em várias línguas com poucas nuances. Tanto em<br />

francês como em português, neerlandês e inglês, a tragédia remete em uso próprio para o<br />

campo lexical <strong>do</strong> teatro e em uso figura<strong>do</strong> para a qualidade de um acontecimento. Assim,<br />

em português, de acor<strong>do</strong> com o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, a tragédia<br />

significa, em primeiro lugar, «uma peça que se ocupa da fatalidade da condição humana e<br />

que geralmente tem um final triste ou infeliz. Género literário a que pertence esse tipo de<br />

139 Nos seguintes trechos, restabeleci a grafia moderna para o conforto da leitura, mas conservei a pontuação<br />

da época.<br />

140 O que acontece, por exemplo, no Dictionnaire encyclopédique du théâtre de Corvin. No artigo «tragique», pode<br />

ler-se que o adjetivo se aplica também a acontecimentos: «C’est ainsi qu’on parlera, improprement mais<br />

couramment, d’un accident tragique» (Enfâse minha).<br />

141 Relativamente ao adjetivo, mantém-se a duplicidade da palavra: «Tragique. adj. Qui appartient à la<br />

Tragédie; qui est funeste, sanglant, malheureux. Former un dessein tragique. Catastrophe tragique. (…) Être<br />

menacé d’une fin violente, et tragique. Parler d’un ton effrayant et tragique. Cette entreprise a eu un succès bien<br />

tragique. On appelle Poète tragique, celui qui fait des Tragédies».<br />

151

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!