24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

inovações genológicas e estruturais em questão parecem remeter para uma estética<br />

especificamente pós-<strong>colonial</strong>. No entanto, como vimos com a obra de Tansi, ao<br />

acrescentar o atributo de pós-<strong>colonial</strong> a qualquer inovação formal afastada de uma norma<br />

supostamente ocidental, esquecemos que a noção de inovação ou de revolução tem esta<strong>do</strong><br />

presente em vários campos literários <strong>do</strong> norte desde finais <strong>do</strong> século XIX. Não se trata aqui<br />

de negar que as literaturas pós-coloniais se têm destaca<strong>do</strong> pela reflexão sobre as formas<br />

importadas, pela procura da originalidade, pelo trabalho sobre as estruturas <strong>do</strong>s géneros<br />

pratica<strong>do</strong>s, mas de integrar estas estéticas num movimento mais amplo que tem a ver com<br />

o que significa escrever no século XX.<br />

Entre as críticas <strong>do</strong> sul que têm tenta<strong>do</strong>, justamente, ler a obra de Pepetela num<br />

contexto mais amplo, Padilha foi das poucas que viu nesta caraterística um questionamento<br />

mais amplo sobre os fundamentos da criação artística em contexto não somente pós-<br />

<strong>colonial</strong> como também pós-moderno. Em «Literaturas africanas e pós-modernismo: uma<br />

indagação», a crítica brasileira relê os romances de Pepetela como sen<strong>do</strong> claramente pós-<br />

coloniais mas também pós-modernos. É através <strong>do</strong> trabalho de Linda Hutcheon sobre a<br />

poética <strong>do</strong> pós-modernismo que Padilha integra Pepetela no contexto mais largo de que<br />

falava há pouco, pois a obra pepeteliana, nomeadamente na sua relação com o subgénero<br />

<strong>do</strong> romance histórico, integra práticas e estratégias textuais que a remetem para o pós-<br />

modernismo literário. Neste contexto, não é exagera<strong>do</strong> falar de «metaficção<br />

historiográfica», conceito que Padilha resgata de Hutcheon, a propósito <strong>do</strong> trabalho de<br />

Pepetela: são de facto romances que embora pertençam ao género (tratam, por exemplo, de<br />

personagens e acontecimentos históricos) possuem um la<strong>do</strong> autoreflexivo assumi<strong>do</strong><br />

(Padilha, 2002: 308). 255<br />

Porém, é possível recuar ainda mais nesta arqueologia da meta-reflexão sobre o que<br />

significa narrar, já que logo no perío<strong>do</strong> imediatamente a seguir à Segunda Guerra mundial,<br />

Sartre questionou a presença <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r omnisciente e omnipotente no romance<br />

contemporâneo, em Qu’est-ce que la littérature? Apesar de este intelectual francês constituir<br />

uma referência para muitos intelectuais <strong>do</strong> Sul (penso aqui nas introduções que escreveu<br />

para Fanon e Memmi ou ainda na introdução a Anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache<br />

de langue française de Senghor), a crítica pepeteliana, pelo menos no esta<strong>do</strong> atual da minha<br />

255 Lueji seria uma das primeiras ocorrências deste tipo de ficção na obra de Pepetela: «Nessa obra encontramse<br />

muitos traços <strong>do</strong> que podemos entender por pós-modernismo: a busca da diferença; a recuperação <strong>do</strong><br />

passa<strong>do</strong> sem traços nostálgicos, a interpenetração da história pela ficção e vice-versa […]» (Padilha, 2002:<br />

308).<br />

318

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!