24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

contrário <strong>do</strong> que acontece com as divindades gregas, as africanas devem remediar as<br />

consequências decorrentes <strong>do</strong> seu comportamento, o que implica, por exemplo, a<br />

possibilidade de inverter os efeitos de uma maldição. Além da proximidade cultural, o<br />

teatro clássico grego oferecia ainda, por um la<strong>do</strong>, temas e reflexões universais e, por outro,<br />

uma estrutura narrativa paradigmática a partir da qual se poderia escrever.<br />

John Djisenu, professor de teatro na Universidade <strong>do</strong> Gana, constata esta<br />

propensão universalista da tragédia grega, independentemente de a tragédia ser também<br />

parte da herança <strong>colonial</strong>:<br />

So long as ancient Greek drama communicates to us and inspires writers about<br />

their own mythologies, it will continue to serve as a cultural universal in the sense<br />

that it addresses problems that are shared by different times, places and cultures,<br />

and which have lasting significance for people wherever it is read or performed.<br />

(Djisenu, 2007: 72)<br />

Noutro contexto, Caya Makhélé, dramaturgo e romancista oriun<strong>do</strong> da República <strong>do</strong><br />

Congo, vê nas tragédias uma espécie de arte poética, uma estrutura sintática exemplar em<br />

que o escritor pode investir para aprender a escrever:<br />

Ce qu’il y a de fascinant dans les mythes grecs, c’est justement leur structure. Il y a<br />

un panthéon imaginaire construit de manière précise, chaque personnage fait partie<br />

d’une histoire qui participe à l’élaboration et la destruction du monde. C’est de<br />

l’ordre du symbole, l’idéal pour réfléchir sur la structure d’un récit. Et lorsqu’on est<br />

face à un monde qui a programmé son équilibre et sa destruction à travers les<br />

alliances, mésalliances et filiations, l’on est tenté de démonter cette machine<br />

implacable, pour y insérer son propre parcours, son propre discours afin de<br />

comprendre du point de vue de la méthode, l’art de la construction du récit. C’est<br />

en démontant que l’on accède à l’art de l’ajustement. (Makhélé, 2004: 173)<br />

A tragédia grega revela-se então, numa certa crítica, um palimpsesto, mas há aqui<br />

algo mais <strong>do</strong> que a simples recuperação de um modelo, pois, quan<strong>do</strong> dramaturgos <strong>do</strong> Sul<br />

recuperam de maneira crítica os clássicos gregos, apontam para a pouca pertinência <strong>do</strong><br />

modelo de transmissão cultural no Ocidente:<br />

222

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!