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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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tautologia e a descrição normativa. Assim, no Dictionnaire du Littéraire (Aron, Saint-Jacques e<br />

Viala, 2008), podemos ler a propósito da tragédia:<br />

La tragédie est un genre dramatique caractérisé par la représentation d’événements<br />

tristes, sanglants ou déplorables advenant à des personnages de haut rang, par des<br />

situations engageant la collectivité et par un ‘style élevé’ (d’où, en France, l’emploi<br />

de l’alexandrin dans le modèle classique du genre). Elle <strong>do</strong>nne à voir le malheur des<br />

grands pour assumer plus lucidement la condition humaine. Elle relève du registre<br />

tragique.<br />

No mesmo dicionário, no artigo dedica<strong>do</strong> ao «trágico», lê-se:<br />

[…] On désigne comme tragique une phase où l’homme est dans l’obligation<br />

d’affronter une crise insurmontable où ‘l’impossible au nécessaire se joint’ (Vladimir<br />

Jankélévitch, L’alternative, 1938). Le tragique se manifeste dans la tragédie, mais<br />

dépasse aussi ce cadre, puisque ce type de situation peut se retrouver dans un grand<br />

nombre de genres; le tragique constitue <strong>do</strong>nc un registre littéraire et artistique.<br />

A primeira definição associa tragédia e trágico, o texto literário pertencen<strong>do</strong> a um<br />

registo que supostamente lhe é exclusivo. Ter-se-á nota<strong>do</strong> igualmente a associação <strong>do</strong><br />

género a um tipo de acontecimento envolven<strong>do</strong> personagens de um grau social<br />

determina<strong>do</strong>, o que exclui <strong>do</strong> campo da tragédia a personagem de baixa condição social.<br />

Nota-se também o facto de o autor inferir da tragédia stricto senso um alcance mais amplo de<br />

cunho filosófico («assumir mais lucidamente a condição humana»). A segunda definição<br />

começa justamente aqui, no campo filosófico, mas agora não se trata da condição humana<br />

mas de uma «crise intransponível» (ideia <strong>do</strong> fracasso) que não tem a ver com um registo<br />

mas com um momento («fase») determina<strong>do</strong>. Este trágico só poderia atualizar-se na<br />

tragédia, se bem que a autora considere que esta atualização se possa fazer noutras<br />

modalidades, o que torna o trágico novamente registo.<br />

Registo literário, momento, consciência da condição humana, o trágico corresponde<br />

de facto a tu<strong>do</strong> isto. No entanto, em momento nenhum, o trágico é encara<strong>do</strong> como “efeito<br />

de uma sintaxe”, como consequência de uma sucessão de etapas e de momentos que<br />

podem ser objeto de descrição. Com o trágico segun<strong>do</strong> o senso comum e o trágico<br />

filosófico, o trágico enquanto “efeito de sintaxe” constitui o terceiro campo lexical sobre o<br />

qual o hermeneuta tem de se debruçar se quiser penetrar na riqueza e na complexidade da<br />

noção.<br />

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