24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mesmo se este paratexto não existisse, como veremos a seguir, a análise textual evidencia o<br />

estatuto de tragédia para três das quatro peças de Pius Ngandu Nkashama. 203<br />

VI. 1. IMPORTÂNCIA DO PARATEXTO EM SONY LABOU TANSI E<br />

PIUS NGANDU NKASHAMA<br />

Dos <strong>do</strong>is, é Sony Labou Tansi que mais atenção dá ao paratexto, pois a maior parte<br />

da sua produção teatral vem precedida de um avant-propos ou de uma note que<br />

invariavelmente remete o texto que se segue para a tragédia, entendida tanto no senso<br />

comum como no senti<strong>do</strong> literário. 204 Assim, a necessidade de uma escrita empenhada em<br />

descrever um mun<strong>do</strong> em crise deve-se em parte às múltiplas tragédias que o marcam. Em<br />

Antoine m’a vendu son destin – Antoine vendeu-me o seu destino (1997), 205 o prefácio aplica o termo<br />

tragédia simultaneamente à época representada (referente social) e à prática teatral: «Ici<br />

commence la tragédie de notre génération bâclée» (1997: 13).<br />

Tansi é um autor claramente empenha<strong>do</strong>, pois encara sem ambiguidade o seu<br />

trabalho como sen<strong>do</strong> a tradução <strong>do</strong> sofrimento <strong>do</strong>s homens no mun<strong>do</strong> moderno, o que,<br />

em parte, recupera o que Denis dizia <strong>do</strong> empenhamento na literatura ten<strong>do</strong> como referente<br />

a produção francesa (Denis, 2000: 17-51). O que diferencia Tansi <strong>do</strong>s autores empenha<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Norte é o lugar de nascença (o continente africano) e o processo de <strong>do</strong>minação violenta<br />

de que este foi alvo. Enquanto africano, o escritor possui, mais <strong>do</strong> que outros, o direito de<br />

se opor a uma História violenta, e de impor o continente tanto na História <strong>do</strong> Ocidente<br />

como na consciência deste: «L’Afrique deviendra de plus en plus un cas de conscience pour<br />

l’Humanité tout entière» (Tansi, 1997: 13). Porém, pesar na consciência <strong>do</strong> Ocidente<br />

significa reapropriar-se de uma palavra negada ou emudecida: «Si nous autres têtus<br />

203 A quarta, Bonjour Monsieur le Ministre – Bom dia Senhor Ministro! (2007), é uma comédia que foi primeiro<br />

publicada sob o pseudónimo de Elimane Bakel nas edições Silex, em Paris, em 1983. A escolha <strong>do</strong><br />

pseudónimo deveu-se ao receio de perseguição (Ben Abdahllah, 2009).<br />

204 Mongo-Boussa vê na intertextualidade e no metadiscurso características recorrentes em muitos textos<br />

africanos. Destaca o la<strong>do</strong> paradigmático de Tansi para a integração nas peças de um paratexto que<br />

supostamente orienta a leitura e a crítica <strong>do</strong> texto: «Les auteurs devancent presque la critique et lui montrent,<br />

pour ainsi dire, le chemin en revendiquant des outils d’analyse non à l’aune d’une vision restreinte où<br />

l’exotisme entre encore en ligne de compte mais à celle d’un panorama plus vaste.» (Mongo-Boussa, 2006:<br />

54).<br />

205 A peça foi primeiro encenada em Limoges no Festival des Francophonies em 1986 pela companhia de Tansi,<br />

Roca<strong>do</strong> Zulu Théâtre, e teve uma primeira publicação no primeiro número da revista Équateur (1986) (Magnier,<br />

2006: 58).<br />

241

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!