24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Qu’il soit sahélien, équatorial ou oriental, l’État en Afrique au sud Sahara est une<br />

création de la puissance <strong>colonial</strong>e <strong>do</strong>nt la forme et les dimensions ont dans la<br />

plupart des cas été une résultante des rapports de force et arrangements des<br />

puissances impérialistes engagées dans le scramble. (Jamfa, 2005: 105) 106<br />

Tanto no caso de Angola como da República Democrática <strong>do</strong> Congo ou ainda da<br />

República <strong>do</strong> Congo, as fronteiras são de facto o resulta<strong>do</strong> de negociações entre atores <strong>do</strong><br />

Norte em posição de força (França) ou de fraqueza (Bélgica e Portugal). Os atores locais<br />

ficaram nos basti<strong>do</strong>res, sem direito à palavra, e continuam a sofrer as consequências de um<br />

processo que ignorou as realidades sociológicas no terreno. Jamfa encontra nesta<br />

imposição de fronteiras um <strong>do</strong>s fatores que mais contribuiu para as disfunções <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

pós-<strong>colonial</strong>:<br />

De ce fait, en réglementant le commerce dans cette partie de l’Afrique [les<br />

résolutions de Berlin] transportaient du même coup le principe de territorialité dans<br />

un espace historiquement caractérisé par le principe des migrations, où toute<br />

politique de sédentarisation ne pouvait être que violente et dysfonctionnelle par<br />

rapport au système habituel de gestion de l’espace et du pouvoir. Ce n’étaient pas<br />

seulement des traditions qui s’en trouvaient détruites ou bouleversées, c’était une<br />

cosmogonie qui se substituait à une autre. L’entrée de l’Afrique dans le système<br />

international westphalien s’effectua <strong>do</strong>nc sous le couvert d’une violence culturelle<br />

<strong>do</strong>nt le principe de territorialité constitue l’instrument central. (Jamfa, 2005: 107)<br />

Esta fixação das fronteiras teve igualmente como consequência em to<strong>do</strong>s os países<br />

estuda<strong>do</strong>s por Jamfa um centralismo administrativo que, por sua vez, originou tensões<br />

fortes com as periferias de cada Esta<strong>do</strong>. Neste ponto da sua demonstração, o despotismo<br />

descentraliza<strong>do</strong> que abordei há pouco torna-se inevitável. O recurso à famosa cadeia de<br />

chefes torna-se indispensável em territórios tão vastos como Angola e o Congo.<br />

No seu estu<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> sobre a produção de «bárbaros» e «cidadãos» em Angola<br />

e na República <strong>do</strong> Congo, Mabeko-Tali também apontava esta cascata de responsáveis<br />

como uma das origens <strong>do</strong> despotismo pós-<strong>colonial</strong>. O administra<strong>do</strong>r territorial <strong>colonial</strong><br />

(independentemente da sua nacionalidade) «dirigeait effectivement de manière centralisée et<br />

106 A artificialidade das fronteiras assim impostas é paradigmaticamente ilustrada pelo EIC. Stengers relata<br />

como Leopol<strong>do</strong> II desenhou as fronteiras <strong>do</strong> seu Esta<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s relatórios <strong>do</strong>s seus informa<strong>do</strong>res sem<br />

nunca ter viaja<strong>do</strong> até lá. O historia<strong>do</strong>r descreve Leopol<strong>do</strong> e Stanley debruça<strong>do</strong>s sobre um mapa da região, na<br />

residência real de Ostende na costa belga: o país nasceu literalmente «de coups de crayons sur une carte»<br />

(Stengers, 2005: 78).<br />

121

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!