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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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afirmação que vale como programa tanto <strong>do</strong> ponto de vista da forma como <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>.<br />

O continente é encara<strong>do</strong> como um to<strong>do</strong> absur<strong>do</strong> e sem senti<strong>do</strong>: «‘Ubuland’ sans frontières,<br />

terre de massacres et de famines, mouroir de tous les espoirs» (Smith, 2003: 13). Logo a<br />

seguir, o autor acrescenta: «Pourquoi l’Afrique meurt-elle? Parce qu’elle se suicide». Aqui,<br />

como nos outros textos, a parte vale pelo to<strong>do</strong> e o to<strong>do</strong> pela parte (a metonimia e a<br />

siné<strong>do</strong>que são as figuras <strong>do</strong>minantes), pois um traço observa<strong>do</strong> algures é imediatamente<br />

objeto de um processo de generalização/amplificação. Na passagem seguinte, Memmi<br />

atribui to<strong>do</strong>s os males <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> não à sua matriz <strong>colonial</strong> mas a uma espécie<br />

de atavismo assim como às práticas políticas locais. Nenhum país é cita<strong>do</strong>, nenhum estu<strong>do</strong><br />

é invoca<strong>do</strong> para conferir alguma pertinência ao que se transforma em julgamento de valor<br />

superficial:<br />

Si le décolonisé n’est toujours pas le libre citoyen d’un pays libre, c’est qu’il<br />

demeure le jouet impuissant de l’ancienne fatalité. Si l’économie est défaillante, la<br />

politique inégalitaire, la culture fossilisée, c’est toujours la faute de l’ex-colonisateur;<br />

non de la saignée systématique du produit national par les nouveaux maîtres, ni de<br />

la viscosité de sa culture qui n’arrive pas à déboucher sur le présent et le futur.<br />

(Memmi, 2004: 44)<br />

Neste extrato, o artigo defini<strong>do</strong> («o descoloniza<strong>do</strong>», «a política desigual»…) designa<br />

uma categoria geral que pretende abranger a complexidade das sociedades em questão. À<br />

semelhança <strong>do</strong> Texto orientalista, a principal característica estilística <strong>do</strong> Texto africanista<br />

reside na repetição infindável <strong>do</strong> mesmo; daí a utilização <strong>do</strong>s artigos defini<strong>do</strong>s que reduzem<br />

a plurivocidade, a complexidade <strong>do</strong> real, a um enuncia<strong>do</strong> onde o verbo ser (être), inseri<strong>do</strong><br />

numa estrutura sintática simples (num mo<strong>do</strong> afirmativo ou negativo), se revela o código<br />

suficiente e necessário para entender a representação da África assim construída. Said<br />

notava que o orientalismo não se escondia atrás de metáforas obscuras, que não<br />

desenvolvia estratégias argumentativas complexas: a ideologia jaz na superfície <strong>do</strong> discurso.<br />

Por outras palavras, o significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Texto, orientalista ou africanista, não está escondi<strong>do</strong>,<br />

mas imediatamente visível.<br />

Se, no início <strong>do</strong> seu ensaio, Béji admite a responsabilidade, por um la<strong>do</strong>, <strong>do</strong><br />

<strong>colonial</strong>ismo e, por outro la<strong>do</strong>, das relações desiguais de poder entre Norte e Sul como<br />

justificações da situação difícil em que se encontra o Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, 77 é para em<br />

77 É de notar que o autor nunca especifica a que tipo de Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong> se refere no seu estu<strong>do</strong> (<strong>do</strong><br />

Magreb? Da África Central?...).<br />

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