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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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omance Things Fall Apart, interpreta<strong>do</strong> como sen<strong>do</strong> uma tragédia («Making a Post-<br />

eurocentyric Humanity: Tragedy, Realism, and Things Fall Apart»). 3 No capítulo V desta<br />

dissertação, relativo às presenças <strong>do</strong> trágico no Sul, dedicarei também a minha atenção a<br />

um <strong>do</strong>s textos de referência na articulação <strong>do</strong> trágico nas suas componentes com as suas<br />

adaptações nalguns escritores africanos: a coletânea de ensaios de Wole Soyinka Myth,<br />

Literature and the African World (1976).<br />

É justamente da Nigéria que vêm algumas das atualizações mais estimulantes tanto<br />

na ficção (e.g. Tegonni: An African Antigone de Femi Osofisan, 1999), como na reflexão<br />

teórica. Assim, Ato Quayson – cujas reflexões teóricas pontuarão este trabalho – permitiu-<br />

me articular o trágico <strong>do</strong> senso comum com o trágico literário no Sul, pois, num<br />

importante ensaio intitula<strong>do</strong> «African Post<strong>colonial</strong> Relations through a Prism of Tragedy»<br />

(2003), evidencia a pertinência <strong>do</strong> trágico para analisar as origens <strong>do</strong> mal que assolou o<br />

escritor Ken Saro-Wiwa.<br />

Esta alusão à notável produção teórica relativa ao trágico permite-me realçar outro<br />

ponto de destaque <strong>do</strong> meu trabalho. Perante um objeto de estu<strong>do</strong> que coloca certas<br />

perguntas à abordagem tradicional das literaturas (nomeadamente à ligação moderna entre<br />

nação, língua e literatura), julguei importante, por um la<strong>do</strong>, insistir na centralidade da<br />

reflexão teórica num campo que não para de procurar novos conceitos e de pensar a partir<br />

<strong>do</strong> recurso à(s) metáfora(s) - daí o forte cunho teórico desta tese - e, por outro la<strong>do</strong>, situar e<br />

justificar a perspetiva comparada aqui a<strong>do</strong>tada. 4 Assim, se os estu<strong>do</strong>s pós-coloniais têm<br />

recorri<strong>do</strong>, em nome de uma comunidade de condição (a condição pós-<strong>colonial</strong>, noção<br />

problemática como veremos no primeiro capítulo), a uma perspetiva naturalmente<br />

comparada da literatura desde a obra programática de Ashcroft, Griffiths e Tiffin (2002),<br />

considerei importante interrogar a natureza desta relação (capítulo I), para se perceber o<br />

lugar matricial das reflexões oriundas da ciência comparativa da literatura nas teorias pós-<br />

coloniais da literatura.<br />

No segun<strong>do</strong> capítulo da dissertação, retomo numa perspetiva crítica <strong>do</strong>is conceitos<br />

centrais em ambos os campos, o de «tradução» e o de «fronteira». Ser-me-ão úteis para<br />

3 Destaco ainda outra interpretação <strong>do</strong> mesmo romance como tragédia: Quayson, Ato (2009), «Transitive<br />

Measures: Tragedy and Existentialism in African Literature», Arcades, Stanford University.<br />

http://arcade.stanford.edu/transitive-measures-tragedy-and-existentialism-african-literature.<br />

4 Jean-Marc Moura via na reflexão teórica uma das características sui generis <strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>ismo (o singular é<br />

<strong>do</strong> ensaísta francês): «La théorie est l’alpha et l’oméga du post<strong>colonial</strong>isme au sens où il commence par<br />

désigner les présupposés ethnocentriques de la critique et de l’histoire littéraire occidentales, et se développe<br />

en réfléchissant sur ses propres pratiques et sur les modalités de production du sens et de la valeur qui les<br />

caractérisent.» (Moura, 2007 a : 12).<br />

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