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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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vois en tenue de général, préparant méthodiquement, et ce, dès le premier jour, son<br />

lâcher de parachutes et ses raids de soudards. (I, 11)<br />

Na última cena <strong>do</strong> primeiro ato, enquanto no palco das festas da independência «la<br />

foule congolaise manifeste en dansant et en chantant le cha-cha de l’indépendance», diz a<br />

didascália, o Embaixa<strong>do</strong>r Grand Occidental, no qual o recetor reconhece facilmente o<br />

Embaixa<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s, dirige-se ao público a partir <strong>do</strong> proscenium: é em nome da<br />

luta contra o comunismo que os Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s intervirão no Congo como noutros países<br />

<strong>do</strong> planeta (I, 13). Com esta última intervenção, estão instaladas as forças (os bancos, o<br />

governo de Bruxelas, o de Washington, as forças de segurança) que, no decorrer da peça,<br />

unem os seus esforços para derrubar Lumumba. O que parece claro é a natureza <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

congolês pós-<strong>colonial</strong>, um Esta<strong>do</strong> que, sob a forma que tinha em 1960, era uma herança <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>colonial</strong> e assim dificilmente poderia ter funciona<strong>do</strong>: «Lumumba: Un État? Non!<br />

Une foire d’empoigne!» (II, 11).<br />

O que mostra Césaire em palco corresponde ao que na realidade estava escondi<strong>do</strong><br />

no fora-de-palco, o que o senso comum chama, recuperan<strong>do</strong> mais uma vez a metáfora<br />

teatral, de «basti<strong>do</strong>res» (da política, <strong>do</strong> governo…). Em senti<strong>do</strong> inverso, o que o recetor<br />

não vê, as festas da independência, é coloca<strong>do</strong> no fora-de-palco pela didascália. É sabi<strong>do</strong><br />

que a teoria da análise <strong>do</strong> texto de teatro insiste na tensão entre o espaço atual e o espaço<br />

virtual como elemento estruturante <strong>do</strong> espaço teatral: é nesta tensão que muitas vezes se<br />

revelam nós semânticos importantes. Nesta ocorrência, o espaço atual e o espaço virtual<br />

correspondem em relação de simetria inversa ao «palco» e aos «basti<strong>do</strong>res» entendi<strong>do</strong>s de<br />

maneira metafórica, ou seja, o que numa certa realidade representa a memória oficial (as<br />

festas da independência) é ti<strong>do</strong> na fábula como secundário e o que foi essencial mas que<br />

ficou nos basti<strong>do</strong>res (as intervenções externas) é recoloca<strong>do</strong> sob plena luz. Assim sen<strong>do</strong>,<br />

utilizan<strong>do</strong> os recursos próprios <strong>do</strong> teatro (a tensão entre o virtual e o actual), Césaire<br />

propôs uma outra versão da história.<br />

E esta outra versão, este outro ponto de vista, implica a transformação de Patrice<br />

Lumumba em personagem de tragédia. Em diversos momentos da sintaxe trágica, esta<br />

personagem recebe advertências que negligencia ou que não sabe interpretar como tal.<br />

Assim, no início <strong>do</strong> ato II, o Toca<strong>do</strong>r de sanza, disfarça<strong>do</strong> de louco, comenta a situação <strong>do</strong><br />

novo país no bar onde Lumumba e Mokutu comentam eles próprios as dificuldades que<br />

enfrenta a República Democrática <strong>do</strong> Congo. Lumumba percebeu que a meta desejada, o<br />

Esta<strong>do</strong>-nação centraliza<strong>do</strong> que deveria trazer liberdade e bem-estar, se revela inadapta<strong>do</strong> ao<br />

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