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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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matizar, os autores afirmam assim que todas as literaturas pós-coloniais teriam segui<strong>do</strong> o<br />

mesmo padrão de desenvolvimento (da literatura produzida pelos coloniza<strong>do</strong>res 20 às<br />

literaturas produzidas nos países independentes, passan<strong>do</strong> pela fase intermédia da literatura<br />

escrita por sujeitos locais sob o controlo das autoridades) e, por conseguinte, evidenciariam<br />

uma proximidade evidente, que bastaria ao crítico descrever, apoian<strong>do</strong>-se,<br />

independentemente <strong>do</strong>s contextos, nos mesmos instrumentos.<br />

É assim que, em nome da suposta comunidade de condições psíquicas e históricas<br />

(Ashcroft et al., 2002: 28), da recorrência de temas semelhantes ou ainda da presença de<br />

estruturas similares em textos oriun<strong>do</strong>s de países diferentes, os autores acham evidente o<br />

recurso à hibridez e ao sincretismo para descrever de maneira satisfatória as literaturas pós-<br />

coloniais. Além de serem traços distintivos para estas, ambos os conceitos serviriam ainda<br />

para a teoria pós-<strong>colonial</strong> – o singular é <strong>do</strong>s autores – como solução para ultrapassar uma<br />

conceção de identidade baseada no nacionalismo ou numa suposta pureza pré-<strong>colonial</strong>. A<br />

sua visão teleológica aparece mais uma vez neste salto perigoso da análise <strong>do</strong> texto pós-<br />

<strong>colonial</strong> para a reflexão política:<br />

Both literary theorists and cultural historians are beginning to recognize cross-<br />

culturality as the potential termination point of an apparently endless human history<br />

of conquest and annihilation justified by the myth of group ‘purity’, and as the basis<br />

on which the post-<strong>colonial</strong> world can be creatively stabilized. (Ashcroft et al., 2002:<br />

35)<br />

É conhecida a particular apetência de uma certa teoria pós-<strong>colonial</strong> pelo conceito<br />

de hibridez. Para vários teóricos, esta seria a característica mais importante de um mun<strong>do</strong><br />

definitivamente pós-<strong>colonial</strong>. No entanto, apresentar a hibridez como o esta<strong>do</strong> último <strong>do</strong><br />

desenvolvimento humano traduz também, por um la<strong>do</strong>, uma falta de perspetiva histórica e,<br />

por outro, uma conceção exclusiva e essencialista das sociedades assim como das relações<br />

que se tecem entre elas. Assim Amselle (2008) tem a certeza de ter encontra<strong>do</strong> no conceito<br />

20 As afirmações perentórias teriam, tarde ou ce<strong>do</strong>, de levar os autores a cometer erros na sua leitura <strong>do</strong> vasto<br />

texto <strong>colonial</strong>. Assim, quan<strong>do</strong> dizem que a suposta objetividade deste último na sua descrição das realidades<br />

locais só servia para esconder o discurso imperial que o sustentava, parecem ignorar a característica essencial<br />

<strong>do</strong> texto <strong>colonial</strong>: a sua transparência. Como o demonstrou Said (1978), de facto este texto não esconde nada,<br />

evidencia a sua ideologia com recurso a ferramentas discursivas e retóricas reduzidas, que circulam facilmente<br />

de uma ocorrência a outra. A sua contribuição para a impregnação <strong>colonial</strong> das sociedades metropolitanas<br />

baseia-se numa estratégia assaz evidente: retomar e repetir os mesmos temas apoian<strong>do</strong>-se na metonimia para<br />

convencer o leitor de que um traço num lugar vale sempre pelo to<strong>do</strong> <strong>do</strong> continente. Nota-se ainda que, com<br />

esta conceção de um desenvolvimento teleológico das literaturas escritas nas ex-colónias, se torna impensável<br />

a possibilidade de a literatura <strong>colonial</strong> continuar para além <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> <strong>colonial</strong>ismo político. Ora, basta um<br />

exame superficial de um só exemplo, o <strong>do</strong> Ruanda, para constatar a profusão de textos pós-independência<br />

que perpetuam a visão <strong>colonial</strong>.<br />

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