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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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normalmente «mais ses mouvements sont automatiques et déterminés à l’avance par le<br />

schéma tragique», pois o senti<strong>do</strong> deste tempo trágico é, para Rosset, «inverse de celui du<br />

nôtre».<br />

Neste mecanismo, o espeta<strong>do</strong>r/leitor está como preso, apesar de ter a sensação,<br />

aqui uma ilusão, de avançar, de seguir a linha <strong>do</strong> tempo, mas no fun<strong>do</strong> só estará a recuar<br />

em direção à origem <strong>do</strong> trágico:<br />

Nous entrons dans le tragique lorsqu’il a fini son œuvre: aussi ne pouvons-nous<br />

lutter contre lui, sommes-nous pris au piège sans recours, puisqu’il a déjà gagné,<br />

puisque son but est déjà atteint, puisqu’il n’est plus. (Rosset, 1991: 13-14) 183<br />

Como se vê, entender o trágico é ao mesmo tempo tarefa simples e complexa,<br />

simples porque os três grandes campos semânticos abarca<strong>do</strong>s pelas palavras tragédia e<br />

trágico se deixam delinear, pois entendemos facilmente para o que remetem. Para o senso<br />

comum, são utiliza<strong>do</strong>s para a qualificação de um acontecimento (a morte trágica de uma<br />

criança), mas também quan<strong>do</strong> se procura a origem <strong>do</strong> mal e da desgraça, o que favorece<br />

um ponto de encontro com o trágico filosófico que, em parte, também busca a razão <strong>do</strong><br />

mal, sobretu<strong>do</strong> o mal imereci<strong>do</strong>. Por fim, ambos os termos podem ser objeto de uma<br />

interpretação estética que visa evidenciar os “efeitos de sintaxe” que, no decorrer de uma<br />

tragédia, mas também de um romance ou de um filme, contribuem para a produção de um<br />

trágico cujas primeiras descrições remontam a Aristóteles.<br />

Contu<strong>do</strong>, estudar estas noções é igualmente complexo pelo que, em primeiro lugar,<br />

é preciso construir, operação intrínseca à análise científica, cada um <strong>do</strong>s campos semânticos<br />

em tantos objetos de estu<strong>do</strong> e tentar uma articulação entre eles. Outra dificuldade surge<br />

não <strong>do</strong> campo epistemológico, mas <strong>do</strong> tema em estu<strong>do</strong>. O campo <strong>do</strong> trágico e da tragédia<br />

está repleto de autores, textos, abordagens, cruzamentos e contradições. É certo que não se<br />

encontrarão aqui alguns <strong>do</strong>s autores ti<strong>do</strong>s como importantes em qualquer abordagem <strong>do</strong><br />

trágico, mas nenhum <strong>do</strong>s que estão presentes nestas páginas será considera<strong>do</strong> menor. Aliás,<br />

realizaram-se estu<strong>do</strong>s de relevo sobre o trágico com grandes omissões. Assim,<br />

Lambropoulos junta Rosenzweig e Benjamin, mas não contempla Rosset nem Omesco,<br />

enquanto Escola integra o primeiro mas deixa de la<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> assim como Maeterlinck.<br />

183 Toman<strong>do</strong> como exemplo Édipo de Sófocles, Rosset descobre um Édipo desconhece<strong>do</strong>r que o mecanismo<br />

trágico já há muito condenou. Com o decorrer da peça, não estamos a progredir para o fim, mas para o<br />

acontecimento inicial, o que provocou a catástrofe (Rosset, 1991: 15).<br />

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