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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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que escrevem noutras línguas, o português neste caso, pois tal caminho introduziria com<br />

certeza matizes, reavaliações e até interrogações sobre a pertinência <strong>do</strong> próprio modelo em<br />

abarcar todas as situações. Um Pepetela, por exemplo, poderia entrar nas três secções e, em<br />

cada uma, oferecer não só uma voz alternativa mas também um questionamento incessante<br />

<strong>do</strong> literário, sobre o que significa escrever num determina<strong>do</strong> contexto, o que Mouralis não<br />

parece encarar.<br />

Nota-se de passagem que ao a<strong>do</strong>tar uma comparação triangular não se pretende<br />

conceber mais um modelo totalizante, o que equivaleria a pretender a exaustividade, mas<br />

questionar, numa perspetiva especificamente comparatista, 39 não só o que os textos têm<br />

para dizer mas também a nossa maneira de os ler.<br />

Em vários momentos das páginas precedentes, afloraram metáforas que tinham a<br />

ver com o <strong>do</strong>mínio marítimo e da viagem ou com a noção de fronteira. Como é sabi<strong>do</strong>, o<br />

recurso a esta figura tem si<strong>do</strong> muito comum entre as teorias pós-coloniais, mas igualmente<br />

no âmbito da ciência comparativa da literatura. Diversas «fronteiras» atravessam assim<br />

ambos os campos, mas igualmente «traduções», uma noção intimamente ligada à de<br />

fronteira. Numa perspetiva teórica pós-<strong>colonial</strong> e comparativa, pensar com ou através da<br />

metáfora significa muito mais <strong>do</strong> que o simples embelezamento de um texto (o que não<br />

teria razão de ser num texto de teor académico), pois implica recusar pensar nos moldes<br />

epistemológicos hegemónicos (o pensamento dialético, por exemplo 40 ) difundi<strong>do</strong>s na<br />

Europa (via o ensino) e em grande parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (via os <strong>colonial</strong>ismos nas suas mais<br />

diversas inclinações). As metáforas da «tradução» e da «fronteira», tão essenciais para<br />

muitos teóricos pós-coloniais assim como para comparatistas, tornaram-se duas das mais<br />

úteis ferramentas para uma hermenêutica das literaturas pós-coloniais. Serão objeto de<br />

análise no capítulo seguinte.<br />

39 Chevrel (2006: 42) aconselha a trabalhar com três obras oriundas de diferentes países a fim de abrir ainda<br />

mais as perspetivas.<br />

40 Sobre as origens e a naturalização deste mo<strong>do</strong> hegemónico de pensar, ver, entre muitos outros, os ensaios<br />

de Ganguly (2004), Jewsiewicki (2001) e Santos (2006).<br />

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