24.06.2013 Views

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Esta<strong>do</strong>, <strong>colonial</strong> e pós-<strong>colonial</strong>, em estrutura que <strong>do</strong>mina e determina o percurso de<br />

algumas personagens.<br />

Além disso, estes quatro romances integram a obra em construção entre<br />

continuidade e inovação. Por um la<strong>do</strong>, retomam o questionamento sobre a História assim<br />

como a relação entre esta e a ficção, questionamento central no projeto pepeteliano, como<br />

aliás notaram vários críticos (Leite, 2009; Mata, 2001; Mata, 2008; Mata, 2009; Padilha,<br />

2002). No que diz respeito à continuidade, destaco ainda a importância da reflexão sobre o<br />

significa<strong>do</strong> de narrar, sobre a identidade e as funções <strong>do</strong> narra<strong>do</strong>r num romance. 239<br />

Entendem-se as razões pelas quais este ponto preciso atraiu as atenções de parte<br />

importante da crítica, pois, ao rejeitar o narra<strong>do</strong>r omnisciente (o narra<strong>do</strong>r distancia<strong>do</strong><br />

importa<strong>do</strong> nas bagagens <strong>do</strong> colono), não se procurava somente introduzir uma inovação<br />

narratológica mas também contar a partir de outros pontos de vista. Qualquer que seja o<br />

sub-género de romance, o romance histórico em A Gloriosa família, o romance policial em<br />

Jaime Bunda, agente secreto e Jaime Bunda e a morte <strong>do</strong> americano, e o romance de formação em<br />

Preda<strong>do</strong>res, Pepetela integra de facto na diegese a questão <strong>do</strong> ponto de vista ou da origem <strong>do</strong><br />

narra<strong>do</strong>r, o que obriga o recetor, por um la<strong>do</strong>, a questionar ou duvidar <strong>do</strong> que lhe é dito e,<br />

por outro la<strong>do</strong>, a participar na elaboração <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> romance. Neste ponto preciso,<br />

Pepetela continua uma reflexão que o leitor encontra já em Mayombe, O Cão e os Caluandas<br />

ou ainda Lueji, mas, como veremos em vários momentos desta leitura, trata-se de mais <strong>do</strong><br />

que uma simples repetição. Isto leva-nos ao segun<strong>do</strong> ponto - o da inovação -, pois a<br />

reflexão que acabei de mencionar insere-se, nos quatro romances aqui analisa<strong>do</strong>s, noutra<br />

reflexão relativa ao sub-género escolhi<strong>do</strong>. Assim, como tentarei demonstrar neste capítulo,<br />

Pepetela não se limita a escrever <strong>do</strong>is romances policiais, mas questiona o próprio género,<br />

as suas fronteiras, o seu sistema de personagens e contribui deste mo<strong>do</strong> para a redefinição<br />

da narrativa policial.<br />

Estes comentários preliminares bastam para perceber o quão complexa se torna a<br />

leitura de Pepetela, pois a cada instante qualquer texto coloca simultaneamente perguntas<br />

de natureza diversa: narratológicas (quem conta e a partir de onde?), estruturais (em vários<br />

textos, as recorrentes analepses e as prolepses obrigam o recetor a participar ativamente na<br />

construção <strong>do</strong> tempo romanesco), genológicas (com A Gloriosa Família, Pepetela escreve<br />

um romance histórico que, ao mesmo tempo, questiona a natureza e os limites <strong>do</strong> romance<br />

239 Trata-se de uma reflexão crítica sobre o ato de narrar, que alguns críticos associam à sua crítica recorrente<br />

aos problemas <strong>do</strong> país. Entre outros, eis, por exemplo, o que afirma Secco a este propósito: «Pepetela é um<br />

conta<strong>do</strong>r da História e das estórias angolanas, haven<strong>do</strong> em seus textos uma constante visão crítica tanto<br />

acerca <strong>do</strong> contexto social <strong>do</strong> seu país, como da própria arte de narrar e de escrever» (Secco, 2009: 151).<br />

304

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!