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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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paratexto orienta a receção da peça, pois a Árvore, personagem essencial, surge não só<br />

como testemunha de tu<strong>do</strong> o que foi proferi<strong>do</strong>, mas também como memória <strong>do</strong>s homens.<br />

A partir deste ponto de vista, o projeto de alguns de a desenraizar para a plantar noutro<br />

continente representa a metáfora de outro desenraizamento, <strong>do</strong> qual homens e natureza<br />

foram vítimas no processo de colonização.<br />

Percebeu-se que ao descrever um momento trágico, Tansi tentava evidenciar em<br />

parte a origem <strong>do</strong> mal que achava assolar o ser humano. Além <strong>do</strong> papel desempenha<strong>do</strong><br />

pelo <strong>colonial</strong>ismo e pelo Esta<strong>do</strong> pós-<strong>colonial</strong>, acrescentaria uma outra fonte ao mal, o<br />

sistema económico mundial. Se o homem sofre, se «a vida se morre» diz ele no paratexto<br />

de La résurrection en rouge et blanc de Roméo et Juliette [A ressurreição em vermelho e branco de Romeo e<br />

Julieta] (1990), tal já não se deve aos militares ou aos políticos. Não é a sua mão que temos<br />

de ver na origem da tragédia, mas a da globalização <strong>do</strong> sistema económico <strong>do</strong>minante:<br />

«Cette main est celle des marchands. Il faut le dire maintenant avec les maux (et les mots)<br />

qui conviennent. Le capitalisme (même celui d’État) est un crime contre l’humanité et son<br />

avenir». O apelo ao empenhamento neste texto aparece cada vez mais imperioso; face à<br />

situação de emergência, o teatro seria ainda a mais eficaz das repostas.<br />

Nota-se que a este empenhamento no campo literário responde outro no campo<br />

político, pois foi em 1989 que Sony Labou Tansi se tornou um <strong>do</strong>s membros funda<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Mouvement Congolais pour la Démocratie et le Développement Intégral (MCDDI) de Bernard<br />

Kolélas e que foi eleito deputa<strong>do</strong> por este parti<strong>do</strong> em Brazzaville três anos mais tarde<br />

(Makhélé, 1995: 41; Singou-Bassez, 1997).<br />

Acrescento que para entender melhor os significa<strong>do</strong>s destas tragédias, é preciso<br />

ainda ver como elas se inserem no campo literário, o seu posicionamento neste explican<strong>do</strong><br />

em parte certas escolhas estéticas.<br />

VI. 2. ESTÉTICA E EFEITO DE CAMPO<br />

Como o dizia há pouco, mesmo se ambos os escritores não tivessem escrito aquele<br />

vasto paratexto, poder-se-ia identificar cada texto como sen<strong>do</strong> uma tragédia, ainda que se<br />

trate nalguns casos de uma tragédia com contornos singulares. De facto, as peças de Tansi<br />

e de Nkashama põem em causa alguns <strong>do</strong>s fundamentos da representação teatral:<br />

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