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O Trágico do Estado Pós-colonial.pdf - Estudo Geral

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investigação essencial sobre as metamorfoses da tragédia contemporânea, aproximava-se<br />

igualmente de Aristóteles ao estudar o efeito da tragédia num recetor que simultaneamente<br />

goza a sua perfeição formal e se comove com o sofrimento das suas personagens:<br />

Quant à la tragédie, elle ne se contente pas de nous faire jouir de sa perfection<br />

formelle, elle provoque notre pitié pour les personnages, des êtres-pour-la-mort<br />

pareils à nous qui se débattent contre un ennemi <strong>do</strong>nt la présence nous remplit de<br />

terreur; sur ce point, depuis Aristote, on n’a pas su dire mieux. (Omesco, 1978: 31)<br />

Como o tentarei demonstrar mais à frente neste capítulo através de certos filmes, a<br />

combinação de piedade (sofro com o espetáculo <strong>do</strong> sofrimento alheio) e de temor (me<strong>do</strong><br />

de vir a experimentar o mesmo sofrimento) como efeito no recetor continua a participar<br />

no efeito trágico em representações contemporâneas. No que tem a ver com o propósito<br />

<strong>do</strong> texto trágico, a definição deixa clara a necessidade de produzir ambas as emoções de<br />

maneira a purgá-las no fim da representação ou da leitura <strong>do</strong> texto trágico, 171 o que<br />

corresponde, na perspetiva aristotélica, ao fim <strong>do</strong> efeito trágico. Não é difícil entender a<br />

interpretação moral que se possa inferir desta purgação das emoções em questão: o recetor,<br />

após o fim <strong>do</strong> espetáculo trágico, evitaria situações semelhantes no regresso à vida real.<br />

Mesmo um Antonin Artaud, num texto afasta<strong>do</strong>, para não dizer oposto, em quase tu<strong>do</strong> à<br />

Poética, encarava o teatro da crueldade no seu efeito, quase físico, no espeta<strong>do</strong>r. Como é<br />

sabi<strong>do</strong>, o teatro que defendia devia tocar assim como chocar fisicamente o espeta<strong>do</strong>r de<br />

maneira a curar o homem moderno (a noção <strong>do</strong> teatro como cura aparece várias vezes no<br />

ensaio de Artaud). Ao assistir a coisas cruéis e violentas, o homem-espeta<strong>do</strong>r tentaria a<br />

seguir evitá-las:<br />

Quels que soient les conflits qui hantent la tête d’une époque, je défie bien un<br />

spectateur à qui des scènes violentes auront passé leur sang […], qui aura vu en<br />

éclair dans des faits extraordinaires et essentiels de sa pensée, - la violence et le sang<br />

ayant été mis au service de la violence de la pensée,- je le défie de se livrer au-<br />

dehors à des idées de guerre, d’émeute et d’assassinat hasardeux. (Artaud, 1948:<br />

127)<br />

171 Em vários momentos, Aristóteles defende que se uma intriga for bem construída não precisa de ser levada<br />

ao palco, produzirá os mesmos efeitos, o que para muitos comenta<strong>do</strong>res significa a degradação da<br />

representação teatral em prol <strong>do</strong> texto li<strong>do</strong>. No entanto, Aristóteles defende no decorrer <strong>do</strong> trata<strong>do</strong> que os<br />

desenlaces infelizes são os que funcionam melhor em cena, tornan<strong>do</strong> as tragédias que o fazem ainda mais<br />

trágicas. É neste momento que admite a maior eficácia <strong>do</strong> trágico como efeito numa representação teatral<br />

pois é então que o acontecimento patético teria maior impacto junto <strong>do</strong> recetor (XIII).<br />

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