aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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6.2. Paul Ricoeur e os símbolos – <strong>hermenêutica</strong> dos símbolos<br />
A intenção do ensaio Hermenêutica dos símbolos e reflexão filosófica é esboçar<br />
<strong>uma</strong> teoria geral do símbolo 269 , sendo o exercício de compreensão e articulação dos<br />
símbolos <strong>uma</strong> reflexão crítica que busca restaurar o sentido dos mesmos. Não se trata,<br />
portanto, de um estudo <strong>da</strong> origem do símbolo e nem <strong>uma</strong> historiografia, mas de <strong>uma</strong><br />
filosofia <strong>hermenêutica</strong>. É, portanto, interpretativa e não contemplativa, é analítica e não<br />
retrospectiva.<br />
Sérgio Franco, ao analisar o pensamento ricoeuriano, constata que Ricoeur<br />
identifica dois estilos antagônicos 270 de interpretar os símbolos: a) a partir do estudo dos<br />
símbolos do sagrado, que fala em manifestação e restauração de sentido e aceita a<br />
reali<strong>da</strong>de de <strong>uma</strong> mensagem; b) a partir do estudo dos símbolos <strong>da</strong> psique que é presidido<br />
pelo conceito de desmistificação e redução de ilusões. Ricoeur desenvolve <strong>uma</strong> crítica<br />
epistemológica à obra de Freud e considera a teoria freudiana inapropria<strong>da</strong>, porque o seu<br />
pensamento representa um reducionismo interpretativo 271 e está estreitamente liga<strong>da</strong> ao<br />
sonho: ele “cobre apenas os estereótipos que resistem à decifração do sonho” 272 e “a<br />
confirmação do simbolismo sexual do sonho pelo do mito equivale assim a <strong>uma</strong> redução<br />
do mítico ao onírico”. Nessa perspectiva, a manifestação dos símbolos ficou restrita aos<br />
sonhos.<br />
Ricoeur, por sua vez, afirma que o símbolo é um só e emerge em três zonas<br />
diferentes 273 : cósmica, psíquica e poética. Marc Girard 274 aponta que o cósmico 275 é tirado<br />
do mundo concreto, o onírico está enraizado nas recor<strong>da</strong>ções e o poético faz apelo à<br />
linguagem concreta. As diferentes teofanias ou hierofanias 276 , apresenta<strong>da</strong>s nos estudos <strong>da</strong><br />
história e teologia <strong>da</strong>s religiões, são <strong>uma</strong> fonte inesgotável de simbolização. Elas, contudo,<br />
269<br />
Paul RICOEUR, O conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 242.<br />
270<br />
Sérgio Gouvêa FRANCO, Hermenêutica e psicanálise na obra de Paul Ricoeur, p. 73.<br />
271<br />
Paul RICOEUR, Da Interpretação, p. 294.<br />
272<br />
Id., ibid., p. 402s.<br />
273<br />
Id., ibid., p. 23s.<br />
274<br />
Marc GIRARD, Os símbolos na Bíblia, p. 73.<br />
275<br />
Marc Girard prefere o termo “observável” a “cósmico” e “concreto” (Durand) porque não é só o<br />
simbolizante que é concreto, mas também o simbolizado. Marc GIRARD, op. cit., p. 73, nota 31.<br />
Nas páginas 36 e seguintes, Girard apresenta a diferença entre simbolizante e simbolizado.<br />
276<br />
Mircea Eliade define hierofania como to<strong>da</strong> e qualquer manifestação do sagrado. In: Mircea<br />
ELIADE, Tratado de história <strong>da</strong>s religiões, p. 2. Eliade divide as hierofanias em cratofanias<br />
(manifestações <strong>da</strong>s forças divinas, como raio, fogo, inun<strong>da</strong>ção) e teofanias (manifestações<br />
pessoais de Deus na forma de visões, sonhos, palavras,...). In: Waldomiro Octavio PIAZZA,<br />
Introdução à fenomelogia religiosa, p. 88.