12.04.2013 Views

aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

114<br />

6.2. Paul Ricoeur e os símbolos – <strong>hermenêutica</strong> dos símbolos<br />

A intenção do ensaio Hermenêutica dos símbolos e reflexão filosófica é esboçar<br />

<strong>uma</strong> teoria geral do símbolo 269 , sendo o exercício de compreensão e articulação dos<br />

símbolos <strong>uma</strong> reflexão crítica que busca restaurar o sentido dos mesmos. Não se trata,<br />

portanto, de um estudo <strong>da</strong> origem do símbolo e nem <strong>uma</strong> historiografia, mas de <strong>uma</strong><br />

filosofia <strong>hermenêutica</strong>. É, portanto, interpretativa e não contemplativa, é analítica e não<br />

retrospectiva.<br />

Sérgio Franco, ao analisar o pensamento ricoeuriano, constata que Ricoeur<br />

identifica dois estilos antagônicos 270 de interpretar os símbolos: a) a partir do estudo dos<br />

símbolos do sagrado, que fala em manifestação e restauração de sentido e aceita a<br />

reali<strong>da</strong>de de <strong>uma</strong> mensagem; b) a partir do estudo dos símbolos <strong>da</strong> psique que é presidido<br />

pelo conceito de desmistificação e redução de ilusões. Ricoeur desenvolve <strong>uma</strong> crítica<br />

epistemológica à obra de Freud e considera a teoria freudiana inapropria<strong>da</strong>, porque o seu<br />

pensamento representa um reducionismo interpretativo 271 e está estreitamente liga<strong>da</strong> ao<br />

sonho: ele “cobre apenas os estereótipos que resistem à decifração do sonho” 272 e “a<br />

confirmação do simbolismo sexual do sonho pelo do mito equivale assim a <strong>uma</strong> redução<br />

do mítico ao onírico”. Nessa perspectiva, a manifestação dos símbolos ficou restrita aos<br />

sonhos.<br />

Ricoeur, por sua vez, afirma que o símbolo é um só e emerge em três zonas<br />

diferentes 273 : cósmica, psíquica e poética. Marc Girard 274 aponta que o cósmico 275 é tirado<br />

do mundo concreto, o onírico está enraizado nas recor<strong>da</strong>ções e o poético faz apelo à<br />

linguagem concreta. As diferentes teofanias ou hierofanias 276 , apresenta<strong>da</strong>s nos estudos <strong>da</strong><br />

história e teologia <strong>da</strong>s religiões, são <strong>uma</strong> fonte inesgotável de simbolização. Elas, contudo,<br />

269<br />

Paul RICOEUR, O conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 242.<br />

270<br />

Sérgio Gouvêa FRANCO, Hermenêutica e psicanálise na obra de Paul Ricoeur, p. 73.<br />

271<br />

Paul RICOEUR, Da Interpretação, p. 294.<br />

272<br />

Id., ibid., p. 402s.<br />

273<br />

Id., ibid., p. 23s.<br />

274<br />

Marc GIRARD, Os símbolos na Bíblia, p. 73.<br />

275<br />

Marc Girard prefere o termo “observável” a “cósmico” e “concreto” (Durand) porque não é só o<br />

simbolizante que é concreto, mas também o simbolizado. Marc GIRARD, op. cit., p. 73, nota 31.<br />

Nas páginas 36 e seguintes, Girard apresenta a diferença entre simbolizante e simbolizado.<br />

276<br />

Mircea Eliade define hierofania como to<strong>da</strong> e qualquer manifestação do sagrado. In: Mircea<br />

ELIADE, Tratado de história <strong>da</strong>s religiões, p. 2. Eliade divide as hierofanias em cratofanias<br />

(manifestações <strong>da</strong>s forças divinas, como raio, fogo, inun<strong>da</strong>ção) e teofanias (manifestações<br />

pessoais de Deus na forma de visões, sonhos, palavras,...). In: Waldomiro Octavio PIAZZA,<br />

Introdução à fenomelogia religiosa, p. 88.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!